EPISÓDIO 6
Não
se brinca com o MAL
quando
ele pode saltar fora do jogo
e
vir brincar com você!
O LANCE FINAL
Meia Noite Menos 6
horas
“No que começa a escurecer,
os vampiros saem de seus caixões e... NHAC!
É
sempre assim.
E toda
história de terror começa a aterrorizar mesmo quando a vítima se mete no antro
da besta.
Então,
entra lá para quê?
Para
ser mordido. Para virar pasto. Ou papá de morto-vivo.
E lá
vou eu entrar no lugar onde Diábolo me mandou entrar.”
Sem
contar que o Malvadão estava esperando ele atravessar a entrada da loja para
esfolá-lo e depois devorar a sua carcaça. Se possível com ele se debatendo,
ainda vivo.
E aí?
Acontece
que Nani conhecia uma entrada secreta
para loja. Coisa que só se descobre quando se é criança, dessas que fuçam tudo,
se enfiam em todos os cantos, e acabam conhecendo todos os segredos dos
lugares. Na garagem, havia a sala de medidores
de eletricidade (entrada proibida para quem não era funcionário do prédio) e,
dali, por um basculante, passava-se para a
área de ventilação do prédio. Depois, tinha-se de subir por uns canos –
e essa era a parte mais arriscada, porque o cara ficava quase pendurado a mais
de seis metros de altura. Quando ele era criança, e, junto com o Lúcio Filho,
haviam descoberto esse caminho, mas não
tinham tido coragem de seguir pelos canos. Só que, diversas vezes, tinham se
imaginado como aventureiros, vencendo perigos e desafios da travessia.
Chegara
a hora de fazer a trilha de verdade.
“Preciso
de uma arma... Qualquer coisa”,
pensou...
Claro
que podia pegar uma faca na cozinha. Mas, a ideia o assustou, como se Diábolo a
tivesse colocado em seus pensamentos. Então, lembrou-se dos estoques
monstrengos de seu irmão caçula... E encontrou o que procurava escondido no
fundo de uma das gavetas do quarto dele...
- Bom
de estar sozinho em casa é poder invadir o quarto do Zé. Hum... devia
aproveitar a chance e...
Mas, resolveu que a situação não
estava para divertimentos fora do foco. Então, apressou-se a sair do
apartamento e desceu de elevador à garagem. Lá, com cuidado para não ser visto
por nenhum empregado do prédio, escorregou para dentro da sala de medidores.
Primeira etapa bem sucedida!
Daí, passou pelo basculante, mas, na hora de se pendurar nos canos, suas
mãos tremiam. Quase que ele arregou. Acabou indo, só que, num determinado
instante, seus dedos escorregaram e lá foi ele aterrissar de bunda no chão. Foi
muito sorte não ter batido com a cabeça num dos canos, nem quebrar osso nenhum,
na queda. Mas, cadê coragem para tentar de novo?
Ficou lá, feito um saco de lixo
mal jogado fora, as lágrimas escorrendo pelas bochechas e ele todo estremecendo.
Sentindo-se perdido, abandonado, no fim da linha.
Só que, se ele ficasse ali,
Diábolo vencia.
E por W.O. Nem iria jogar o lance final. Desistência.
E nunca seu mundo, nada de tudo o
que conhecia, iria voltar ao normal. Ia
ter perdido tudo, mais do que seu aniversário, tudo...
Então, respirou fundo e, bem
devagarinho, vencendo as dores no corpo, conseguiu se levantar de novo. Agarrou-se
nos canos e começou a subir...
Passava-se então por cima de uma
divisória, mais uma arriscada descida por canos numa outra área de ventilação e
então, entrava-se por outro basculante. E então estaria num pequeno depósito
nos fundos da loja, que dava no Clube.
Para
sua surpresa, dessa vez, tudo foi dando certo e, quando viu, já entrara no
Clube.
Total
escuridão. No entanto, Nani estava com uma sensação estranha, como se estivesse
cercado de olhos.
E as
coisas se aproximando dele. Vultos. Com capuzes. E uivando.
Nani se encolheu contra a parede,
aterrorizado:
- Por favor! Por favor! Vocês não
vão me matar, vão? Por favor!!!
E lá vinham as coisas se aproximando, se
aproximando...
Então, um instante de lucidez, ele enfiou a mão no
bolso, e sacou sua arma secreta. Três das bombas-pacotinho do Monstro.
Precisava arremessá-las forte, para que explodissem, no impacto. Foi o que fez.
Um vapor espesso se levantou. Um mau-cheiro
terrível envolveu Nani e as figuras uivantes. Todos tossiam desperadamente.
De repente, um grito ferino, abominável, esganiçado:
- Minhas bombas de fedor! Você
invadiu meu quarto e roubou minhas bombas, seu...
Nani levou um chute na perna.
- Aiii! – berrou. Então hesitou: “Desde quando espíritos amaldiçoados
dão caneladas?”. E percebeu que a figura de capuz que o havia chutado era a
mais baixa de todo o grupo. Então, mesmo com o disfarce, reconheceu-a: - Zé! Você... está dominado por eles? Mas, quem ...?
- Meu nome é Monstro! -, interrompeu com um urro o encapuçado, chutando-o de
novo.
Então, as luzes se acenderam,
houve uma gritaria danada em torno dele:
- Surpresa! Surpresa!
“É o
fim!”, pensou hesitante o garoto. “Zé sempre quis acabar comigo. Agora, então! Vão
me estraçalhar! Vão beber meu sangue! Vão arrancar meu coração! Vão...!”
Sentiu sua cabeça rodar, as
pernas amolecerem, e ele desabou no chão, enquanto as criaturas tiravam os
capuzes e cantando aos berros:
Parabéns pra você
Nessa data querida ...
- Nani! Nani!- gritou então
Marieta, correndo para o filho.
O
garoto não estava escutando mais nada, quando sua mãe se ajoelhou junto dele,
aflita. O pai chegou junto um segundo depois e já se agachou dizendo:
- Minha
nossa! Será que a gente exagerou?
MEIA-NOITE menos
treze minutos.
- Você
queria um aniversário diferente, daí... – dizia o pai.
Nani havia
recuperado os sentidos fazia poucos minutos. Deram água para ele e o fizeram
respirar.
- Tem certeza de que está bem? –
insistiu Marieta.
Na sala, sentado – ou melhor,
arriado – no sofá, e ainda tremendo um pouco, o garoto respondeu que sim. E só então começaram as explicações. Os ensaios
para cada cena. Os efeitos especiais: cenários, maquiagens, fumaça e explosões
de circo (Marieta não era filha de palhaço à toa) e mais, o treinamento para
meter os dados nos bolsos dele e tirar, sem ele perceber...
- Truques de mágico! – disse
Marieta rindo e fazendo as mãos dançarem em frente aos olhos do filho. – Mãos
rápidas!
- Deu um trabalhão! – cobrou o
monstro. – O mínimo que você poderia fazer, em agradecimento, era ter um
infarto!
- José! – repreendeu Marieta. –
Isso é coisa que se diga?
- E como convenceram o Lucio Pai e o Tio
Ricardo a entrar nessa? – perguntou Nani.
- Não convencemos. Foi o Lúcio Filho que inventou um chamado em
casa para tirar o Lucio Pai da loja. E o
Ricard-o-Ogro está até agora danado da vida, me acusando de ter contratado um
espião para invadir a casa dele. Essa sua tirada não estava no programa.
- Na verdade, eu não inventei
nada – disse Lucio Filho. - Chegou um telegrama lá em casa. De verdade. E é uma
notícia ótima. Meu pai ganhou uma herança de um sujeito que ele só se lembra de
ter visto uma vez, muitos anos atrás, em Istambul. Nem casado ele era ainda, era
novo, viajava à beça pelo mundo, e não sei direito por que o tal Mehemedi
deixou essa grana pra ele. Mas é um bocado de dinheiro! Bem, meu pai tinha então
de entrar em contato com uns advogados, que cuidavam do inventário do sujeito,
e o cara deixou também uma carta, dizendo que devia isso ao meu pai por algo
que ele fez... Foi com essa história que tirei ele da loja. Depois, quando a
carta chegar da Turquia, vamos conhecer direito a coisa toda. O que importa é
que não vamos perder a Além da Imaginação!
- Não brinca! -, exclamou Nani.
- Sério. Seu Ricardo já concordou
em vender a loja pra gente. Parece que ele anda mesmo precisando de grana e
isso resolve o problema dele. Tá vendo? Melhor para todos!
- E eu vou querer uma armação
melhor ainda no meu aniversário! – urrou Zé Monstro. – Senão vai ficar provado
que vocês gostam mais do Nani do que de mim. Faltam só duas semanas! Ou será
que esqueceram?
Felipe e Marieta se olharam.
- José, claro que a gente gosta
igual dos dois, mas... Haja criatividade!
- Problema de vocês. E não
adianta fazer o mesmo jogo. Tem de ser surpresa...! Tem de funcionar e me
deixar boirrado de medo, que nem o Nani. Entenderam?
- Eu não fiquei... – tentou
protestar Nani, mas não estava com fôlego para discussões.
O Pai e a mãe dos garotos soltaram
um suspiro em dueto.
- Tá vendo o que você arranjou? –
cochichou Marieta.
- Eu? Só eu? – replicou Felipe,
estonteado.
E bem nesse momento entrou Gogoia
na sala. Todo mundo deu uma desculpa para sair e deixar os dois sozinhos. Marieta,
de passagem, cumprimentou a garota pelo seu desempenho
dark. Gogoia estava feliz da vida consigo mesma. E se sentou bem, coladinha
de Nani dizendo:
- Ainda não é meia noite.
- É, falta uns minutinhos! – replicou Nani,
paralisado, sob os fatídicos olhos da garota... e sentindo um gelo na barriga.
- Pois é...
Lá nas profundezas de seu quarto,
com uma vozinha debochada, Monstro Zé cantarolou:
Parabéns pra você
Nessa data querida
Muitas felicidades
Muitos anos de vida
O FINAL DEPOIS DO
FINAL
ou
O DIA SEGUINTE
DE: Lucio Filho
PARA: Nani
A carta
do tal turco chegou. Você nem imagina a história. Vou contar depois. Olha.. meu pai está uma
fera. Esse lance de Istambul etc... lembrou a ele dos dados. Ele ainda não
sabia que eu tinha pegado. Tinha me mostrado uma vez e, quando a gente estava
planejando o golpe contra você, dei a ideia. Funcionaram bem pacas, não foi?
Mas, agora devolve eles. Meu pai disse que são mesmo antigos e um bocado
preciosos.
DE: Nani
PARA: LUCIO F.
Mas, eu
não tô com os dados, cara! Não sei onde foram parar, depois dessa confusão
toda. Perdi eles de vista.
DE: ∞@∞.∞
Para: naniotario@vacilao.com.br
(OBS: este email teve uma tela de introdução, uma imagem que
rodopiava na tela, e que Nani demorou um pouco até identificar... uma cobra que
engolia o próprio rabo. Mas, foi rápido. Um dois, três... E logo apareceu o
texto do email... )
Você
conseguiu vencer o jogo dessa vez. E só por isso seu mundo foi devolvido, e
você ao seu mundo. Mas, haverá outras disputas. Uma vez vítima, sempre vítima. O
jogo continua. Rá!Rá!Rá!
DE: Nani
PARA: (respondendo)
É você,
não é, Zé? Arranjou um endereço de email diferente para tentar zoar comigo?
Acha que vai me pegar de novo, seu bobão? Já sei! Os dados estão com você, não
estão? Devolve eles, que o L Fo está num sufoco. Olha, idiota, faz uma coisa
inteligente uma vez na vida. Você é meio sem miolos mas tem o suficiente pra
entender que essa coisa pode não ser legal pra você. Devolve os dados logo, Zé!
DE: ∞@∞.∞
PARA: (respondendo)
Rá!Rá!Rá!
Tá morrendo de medo de novo, né? Me aguarde...!
JOGO TERMINADO
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