EPISÓDIO 5
Não se brinca com o MAL quando ele pode
saltar fora do jogo e vir brincar com você!
Continua rolando o Dia do Aniversário de Nani...
Mas, de aniversário mesmo... NADA!!!!
Nani acordou crente que aquele seria o SEU dia.
Afinal, era seu aniversário.
13 anos.
Com o Fator Gogoia pairando no ar.
... E mais todos os paparicos que esperava receber do pai e da
mãe.
... E o ciumeco que contava causar em
seu irmão mais novo, o Zé, auto-intitulado Monstro, inconformado por ter
de aturar Nani na posição de dono da festa.
...E tudo o mais que todo mundo espera do seu aniversário. Pacote
completo!
Só que não foi nada disso que aconteceu.
E para pesar ainda mais contra nosso herói sonado... Ricardo-o-Ogro acaba de entrar em cena!
PUTZ!!!!!!!
Aquele seria MESMO o dia mais esquisito que Nani já havia vivido.
Se é que ele vai sobreviver até o final desse dia...!
Meio-Dia
ou Meia-Noite menos
12hs
ou
O OGRO
- Bom
dia, seu síndico... quer dizer... Tio! – gaguejou Nani. – Hoje é meu
aniversário, lembra?
- Claro
que me lembro! Hoje faz um ano que você deu aquela festa aqui no play que quase
destruiu o terraço inteiro!
- Puxa,
tio! Que exagero! O som estava meio alto, mas...
- Não
tô aqui como seu tio, garoto! E dessa vez, o que você fez?
- Eu...
- ia dizendo Nani, mas então brecou...
Nesse
instante, lembrou-se do que estava fazendo até três segundos atrás, virou-se
para trás esperando ver Gogoia, agora
que a fumaça havia baixado, mas a garota
havia sumido. Ele ficou totalmente sem ação, enquanto Ricardo-o-Ogro continuava
a esbravejar:
- Acorda, garoto danado! O que deu em você
para tentar por fogo no prédio? Quando os moradores souberem, acaba de vez essa
ridícula candidatura do seu pai, tentando me tirar do meu cargo de síndico...
- Seu cargo?
Mas, tio... – tentou argumentar, Nani, quando escutou um ruído vindo do bolso
da calça de Ricard-o-Ogro. Bem ligeiro,
Nani decidiu que não era hora para conversar com o tio sobre democracia num
condomínio etc. Ouviu um tilintar metálico que reconheceu no ato. Só não
conseguiu lembrar onde havia deixado os dados que produziam aquele barulho. Havia
pensado em jogá-los fora na primeira lixeira que encontrasse, mas... não se
lembrava se tinha feito isso, ou ... ou...
Ricard-o-Ogro,
o síndico, tinha o rosto mais vermelho do que pintura de carro de bombeiros.
Agarrou Nani pela camiseta, na altura do peito e lhe deu uma sacudida...
- Me
larga Tio! – gritou Nani. – Se não, digo pro meu pai pra dar queixa na polícia
contra você!
- Seu
pai? – replicou o síndico, com uma risadinha debochada. – E onde é que está seu
pai? Você sabe?
Nani
arregalou os olhos...
E começou
a somar uma pista na outra, uma suspeita noutra...
Então...
Ricard-o-Ogro, o inimigo do seu pai, de toda a sua família, estava com os dados
de Diábolo no bolso, sem Nani saber como e onde os tinha largado, e, pelo
jeito, sabia que alguma coisa muita estranha havia acontecido com seu
adversário nas eleições do condomínio.
Então...
O texto maroto que tinha aparecido na tela do laptop do pai entregava o lance
do Inimigo Geral: ele tinha de conseguir um representante
na dimensão material para armar seu jogo e suas ações malignas... O pior
“inferior” disponível...
Então...
que representante seria melhor do que um cara que (segundo seu pai) já não era,
de natureza, totalmente humano? Muito
conveniente para uma entidade do Mal... Não?
Nani
foi recuando de costas. Enquanto o síndico bufafa. O homem estava totalmente transtornado
de irritação, suas faces haviam ficado roxas, os cabelos se eriçaram, faltando
pouco para ele se transformar de vez em alguma-coisa-não-deste-mundo... E continuava
bufando. Mais e mais! Como um Minotauro alucinado prestes a explodir.
Nani
alcançou a porta que dava nas escadas do terraço, abriu-a e disparou pelas
escadas. Havia um zumbido obstruindo seus ouvidos, tanto que o garoto não
saberia dizer se o tio, que ficou lá parado, ejetando farpas de raiva contra
ele, berrou exigindo que ele voltasse ou soltou um rugido de besta-fera. Não
escutou, nem quis saber. Não estava nem um pouco curioso sobre nada que
acontecesse às suas costas. Com uma dor de barriga atroz, o coração disparado numa
batida de altos e baixos como se estivesse quicando em ricochete dentro do
peito, ele só queria chegar ao seu apartamento...
Entrou
correndo, tropeçando, bateu a porta atrás de si... E somente para tomar um
susto, e gritar, quando algo deu um bote sobre ele...
Ou não
foi um bote. Não foi um bicho. E não era algo.
Era ... Lúcio Filho.
- Que
susto, cara! – berrou Nani, empurrando o amigo, que tropeçou nas próprias
pernas e caiu de costas.
- Nani!
– exclamou ele, rosto suado, vermelho, assustado. – Ainda bem que encontrei
você!
- Ficou
doido, cara?
- Não,
não...! Escuta! – gaguejou Lucio Filho, erguendo-se, meio no trambulhão. –
Escuta... Você é o único que pode resolver essa parada! E salvar todo mundo!
- Como
é que é? Mas, se foi você quem me meteu nessa encrenca! Você foi quem me
mostrou aqueles dados!
- Eu
não mandei você por eles na mão! Aliás, disse para você não tocar neles!
-
Peraí! – disparou Nani. – Como você sabe que eu pus os dados na minha mão? Você
não estava mais no clube quando eu fiz isso.
- Nani!
Por favor, a gente não tem tempo pra isso!
-
Mas...
- Não,
pára! Me responde primeiro. A maldição pegou você também?
- A
maldição? Você quer dizer...?
- Irra!
Já entendi! Ferrou!
- Mas,
cadê o seu pai? Ele deve entender dessa história e desfazer a coisa, né? Quem
sabe, bater um papo com o tal Diábolo, propor um acordo, um...
- Ficou
doido? Onde estão os dados?
- Bem,
acho que... com ele!
- Com... ele? Jura que não estão com você?
- Ora,
não mesmo... – disse Nani, levando a mão ao bolso. E de repente: - Epa!
- Os
dados... – murmurou Lucio, empalidecendo agora, vendo que sua mão saía do bolso
com as três peças de bronze.
- Toma!
– disse Nani, desesperado, tentando segurar Lúcio Filho. - Leva isso de volta
pro seu pai e diz pra ele devolver o... meu aniversário!
Diz que...
- Não
dá! – replicou Lucio aflito, se soltando. – Nem sei onde está meu pai. Ele me
chamou na oficina, mas logo depois desapareceu.
- Você
também desapareceu – acusou nani.
- Vai
ver eles pegaram meu pai.
- Como?
Você não viu acontecer?
Lucio
Filho já estava fugindo correndo pela porta e disse alto, sem se virar:
- Eles
são super poderosos! Estão por toda a parte! Ferrou! Ferrou!
- Pára!
Volta aqui! Não me deixa sozinho! Lúcio...
Mas, no
que Nani atravessou a porta, as luzes do corredor se apagaram e uma risada,
estridente, debochada, perversa, soou lá do meio do escuro. Uma risada que não
podia ser do seu amigo. Uma risada algo
... diabolizada!
Meia-Noite Menos 11
horas
PARTINDO PRA BRIGA
Ou...
ia pra debaixo da cama, esperando o mundo virar do avesso...
Ou
partia pra briga...
Foi o
que pensou Nani. E a primeira providência que tomou foi telefonar para o
síndico. Mal Ricard-o-Ogro atendeu o telefone, gritar , disfarçando a voz, um
dos apelidos que seu pai havia inventado contra ele:
-
Lagartixa Vegetariana Viciada em Laxante!
O
síndico, que já conhecia essa alcunha por ouvir dizer (havia quem fizesse
questão de fazer ele saber, com bilhetinhos enfiados na caixa de correio dele e
outros meios alternativos de comunicação), berrou meia dúzia de palavrões em
resposta. Nani bateu o telefone:
- Fase
1 concluída! – disse.
Fase
seguinte, então...
Nani pegou
o elevador até o andar do síndico. Escancarou a porta de incêndio totalmente, de
um jeito que a mola da porta fizesse ela retornar bem devagar, e então a soltou.
Daí, já na porta do Ogro, deu uma parada, tomou fôlego, então enfiou o dedo na
campainha. Contou 1, 2, 3... era para ser até 5, mas o medo bateu e ele
disparou e se escondeu no vão da lixeira.
Ainda
furioso por ter sido chamado de lagartixa (etc...) e, agora, por ter a sua
sagrada campainha usada indevidamente, o síndico nem pensou, ao ver a porta de
incêndio se fechando. Correu para ela e disparou escadas abaixo, berrando
ameaças, mas deixando a porta do seu apartamento entreaberta. Como Nani torcia
para que ele fizesse. Ricard-o-Ogro morava sozinho...
Dois
minutos depois, quando o síndico retornou ao seu apartamento e fechou a porta,
um Nani fazendo de tudo para que os batimentos do coração, refletindo-se nas
carótidas, não o denunciassem, o observava escondido por trás da cortina. Ficou
observando enquanto o Ogro, o tal que queria mover ação de despejo contra os Lúcios
e toda a garotada que frequentava a Além da Imaginação, andava de um lado para
o outro, na sala. De repente, parou junto a uma estante, meteu a mão por trás
dos livros e tirou uma caixinha de papelão de lá. Nani quase desmaiou ao
escutar o tilintar metálico, dentro da caixinha. Levou as mãos ao bolso, e se
deu conta de que, se os Dados estavam ali, durante seu encontro rápido com
Lucio Filho, haviam desaparecido, sem que ele soubesse como vieram, nem como
foram.
“Se,
para ganhar o jogo e tudo voltar ao normal, eu tenho de encontrar Diábolo antes
que ele me encontre...”, raciocinou Nani, hesitante... “quem sabe vai ser
agora. É só flagrar meu tio se transformando na tal entidade milenar do Mal...
Aiii! Só não pode ser defeito de família, tá?”...
Mas, Ricard-o-Ogro
não abriu a caixinha. Com ela nas mãos, retomou a caminhada de um lado para o
outro na sala. De um lado para o outro. Como se não conseguisse se decidir o
que fazer. E resmungava alto, como se estivesse brigando com a própria sombra:
- Eu aqui duro! Precisando inventar
dinheiro, e só me aparece aporrinhação! Só aporrinhação!
... (rugidos, roncos e
grunhidos...)
Então, subitamente, o interfone
tocou na cozinha, ele deixou a caixinha sobre a mesa e foi atender. A voz dele
estava tão alterada, que Nani escutou tudo o que ele dizia. Algum problema na
garagem... Estava falando com Seu Zildo,
o zelador, e gritava:
- Eu
ponho você na rua, seu... seu molenga! Como? Eu sou o quê? Seu... !
No
impulso, Nani abandonou seu esconderijo, agarrou a caixinha e saiu correndo
pela porta. O síndico percebeu o movimento na sala e, mesmo sem saber quem era
o intruso, largou o telefone e saiu berrando da cozinha. Tarde demais.
Nani
pensou que o tilintar dentro da caixinha pudesse denunciar seu rastro. Mas,
chegando em casa, novamente ofegante e com o coração querendo ganhar o mundo
por conta própria, pôde comemorar sozinho sua proeza. Ele era ou não era o
maior, como Mestre de Jogos? Inventava armadilhas, surpresas inimagináveis,
reviravoltas no enredo, na trama dos jogos. Era ou não um adversário que
Diábolo, fosse quem fosse o malvadão, nunca deveria ter desafiado? Agora que
ele tinha os dados de volta, ia tomar conta do jogo, e aí... aí...
Aí
coisa nenhuma porque, quando fechou a porta às suas costas e avidamente abriu a
caixinha que tinha surrupiado, num lance de aventura e suspense sem igual, em
vez dos dados de bronze, o que ele encontrou foram chaves. Chaves de cadeados.
Muitas velhas e enferrujadas. Como se fosse uma coleção do Ricard-o-Ogro. Uma
coleção sem graça, na opinião de Nani. Mas, que se danasse a opinião dele
porque... nada de dados!
E Nani
se deu conta de que poderia ter suspeitado errado do seu tio. Ricard-o-Ogro
podia até ser o maior verme do planeta... ou do prédio, pelo menos... Mas nem
por isso seria capaz de sumir com seus pais,
de endoidar seu irmão e a Gogoia (“Ah, a
Gogoia... meu presente de aniversário!”) ... Talvez ele não tivesse feito nada
disso. Nesse caso, quem seria o hospedeiro de carne e osso de Diábolo, nesta
dimensão?
“Quer
saber, Nani?” –disse consigo mesmo o garoto, arriando no chão... “Senhor gênio
dos aprontos e lances, quer saber?...A verdade, a verdade mesmo... é que você
nem desconfia!”
Meia-Noite Menos
8 horas...
ADVINHE QUEM LIGOU
PRA VOCÊ!
ou
Nunca Mais! Nunca Mais!
Depois
de muito, muito tempo ali, estirado no chão, olhando para o teto, e decidido a
ficar ali para sempre, algo finalmente aconteceu...
Um
estalido em seu celular, que saltitou vibrando. O ifone tocou em seguida. Um
toque que não era o que Nani tinha programado. Parecia... o tilintar dos dados.
E quem
estava ligando? Não havia número de chamada...
- Você
se rende? – inquiriu a voz rouca, ecoante, com um tom cortante de sarcasmo que
machucava só de escutar.
Nani
não precisou perguntar quem era.
Estava
à beira de chorar, mas também não queria chorar.
- Onde
estão meu pai e minha mãe?
- Eles
dois por você. Uma troca.
- Tá...
– ele murmurou.
- Você
tem de jogar o jogo! – rugiu a voz.
- Tá...
– repetiu Nani, se apertando por dentro.
- O
lance final!
- ...
- É sua
última chance de tomar os dados de mim. Senão...
-
Onde...? Diz...!
E, no
que perguntou, já sentia lá no seu íntimo que não conseguiria vencer aquela
coisa. Não, algo com aquela voz. “Nunca
mais vou ver minha mãe! Nem meu pai. Nunca mais! Vou ... até sentir falta do
meu irmão, ridículo, absurdo, bizarro, sentir falta daquele... Nossa... Nunca
mais vou ver ele também. Nunca mais! Nunca mais! “...
-
Então? – apertou a voz.
Nani
balançou a cabeça assentindo. E, como se a voz o tivesse visto, e entendido que ele aceitara, que iria obedecer, um sussurro
soou. O garoto engoliu em seco três, quatro vezes, pressionou o botão de desligar do ifone e dirigiu-se para a
porta.
A voz
havia dito: “Além da Imaginação!”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário