domingo, 15 de novembro de 2020

 





 

I  NY

 

               O lema fascista do psicopata que nos governa é “Pátria Amada Brasil”.

               Curioso patriotismo e curioso amor, estes.

               Não ama o povo, já que não liga se morrerem 170 mil ou um milhão: “Morrem os que tem de morrer. E daí, maricas? Eu não sou coveiro!”.

               Na defesa da mulher, da família e dos direitos humanos, num país em que o feminicídio e a violência doméstica contra a mulher batem recordes, colocou uma fanática boçal, que contraria tudo o que se conhece de direitos humanos, que ataca as conquistas das mulheres e prega a submissão delas aos homens, e sofre de homofobia histérica, levando ao pé da goiabeira todas as frases malfadadas do presidente, outro homofóbico grotesco.  

               Na defesa dos povos tradicionais, colocou agentes de um genocídio equiparado ao dos tempos da colonização.

    Defendeu o fim das cadeitrinhas para crianças pequenas nos carros, que salvou tantas de suas vidas, tenta desmoralizar a vacinação, defendeu a volta da permissão ao trabalho para menores que deveriam estar na escola, diminuiu drasticamente a fiscalização contra o trabalho escravo. Quer armar o povo, como numa volta ao faroeste. Entre inumeráveis outras, além de suas bravatas, pregando o golpe de estado para se recolocar com poderes tirânicos no "comando" do país. 

               Na educação das crianças e dos mais pobres, tirou dinheiro do FUNDEB para colocar... sabemos onde seus aliados escondem dinheiro.  

               Não ama a cultura... Colocou de secretário da cultura (extinguiu o Ministério da Cultura) um boneco, ataca os intelectuais e artistas, pretende elitizar ao máximo os livros, odeia a produção cultural e a solapa como pode;  e, para o posto que deveria defender a cultura negra, produziu o prodígio de arranjar um freek-raro, um negro racista, que odeia a própria etnia, a própria cultura de seu povo, seus heróis, suas referências e a própria pele – o irmão o chama de “capitão do mato”. É um negro que implora para que o vejam com alguém de alma branca, mascote servil e fiel ao seu dono.

               Não ama a natureza do país. De onde se deveria protegê-la, a natureza brasileira, que já ufanou tantos clichezados, colocou um  Valdemort, Senhor da  Devastação, que opera para enriquecer, dilapidando o patrimônio ambiental que não é seu, nem do governo, mas de todo um povo e da sua história.

               São tantos os desmandos, perversões e perversidades,  que eu me pergunto hoje, mais do que nunca, que valor tem palavras vazias como nacionalismo, patriotismo ou mesmo país, ou mesmo Brasil.  O que significam, se podem ser deturpadas ao gosto do poder mais tacanho? Se já foi “Brasil, ame-o ou deixe-o”, nos tempos da tortura (de brasileiros, de heróis que lutavam contra a ditadura) praticada pelo Governo, diretamente, e hoje é “Pátria Amada”, esta que se quer transformar em uma republiqueta controlada por milícias – fiéis ao comando central das milícias.

    O que restou da "Pátria", para se amar? Ou para ele pedir nosso amor?

              
    Sou rubro-negro apaixonado.  Coisa de família. Não gosto muito da combinação verde-amarelo, mas isso pode ser idiossincrático (afinal, vivi a adolescência na ditadura). E amo o arco-iris.

Não sou patriota. Não sou nacionalista. Não sou provinciano, nem passadista – (esse culto-zona-de-conforto ao tempo mítico, passado irrecorrível, que permite a uns e outros se passarem por aliados ao movimento negro, sem defender explicitamente o antirracismo, ou se posarem de parte das populações tradicionais, sem denunciar de viva voz o genocídio, preservando-se, uns e outros, em seu silêncio e a suas alforriadas sinecuras oficiais) -; não,  quando o presente está em chamas.  Não vejo sentido numa devoção à "cultura popular", que não denuncie a tremenda desigualdade social que atormenta nosso povo, a miséria e a fome, que retornaram, com o psicopata. Tenho muito mais a ver com os americanos que deixaram Trump à mercê dos processos judiciais a que faz jus do que com qualquer brasileiro, carioca, vizinho bolsonarista.

               E mais... Viva os  valentes no Brasil, no Rio e outras capitais, que, fosse por panelaços, fosse por gritos nas janelas, fosse na rua, enfrentando até a pandemia, defenderam a democracia, contra o protogolpe que o psicopata quase deu – e  daria, se não fossem as ruas, naquele momento - ... e digo que esses têm muito mais a ver com o movimento antirracista, que hoje une o mundo numa palavra de ordem: “Vidas negras importam!”, a primeira a aprofundar os horizontes da democracia, plasmando-a num protesto planetário , desde a década de 1970. Esses se tornaram cidadãos do mundo.

               A democracia é um processo longo, em construção. É hoje é uma fraternidade mundial, contra o isolacionismo, mas militante, pró-ativa, afirmativa. Não basta ser contra o racismo, temos de nos fortalecer e sustentar, nós, os antirracistas;  não basta ser defensor dos bichinhos e das plantinhas; temos de ser , em voz alta e forte, contra a devastação – pela sobrevivência de nossa espécie, pelo mundo que deixamos a nossos filhos e netos! Não basta ser simpático aos povos indígenas ou divulgar suas tradições. Temos de nos posicionar decididamente contra o genocídio e o roubo de suas terras. A favor dos refugiados. Contra as ditaduras de todas as espécies. Contra a violência e a discriminação ás mulheres, aos LGBTs. Contra o obscutantismo, seja onde for, em Brasília ou no Oriente Médio.

               E no meu caso, ainda, sempre em defesa da Literatura. Essa pátria sem fronteiras, sem interdições de idiomas, credos, cor de pele, tendência sexual, gênero. Essa comunidade que une um Homero, de 3000 anos atrás à obra recém lançada, Cervantes a Machado, o blogueiro e influencer ao apaixonado pela leitura literária, e este ao escritor da periferia das cidades, que denuncia seu cotidiano de oprimido, num país em que morrem mais negros, jovens, pobres, por ano, do que em qualquer guerra em andamento na Terra.

               Minha pátria é o mundo. Minha pátria, hoje, é Nova York anti-Trump, esses Estados Unidos, tão pouco compreendido, que não é monolítico, longe disso, e onde a democracia, a empatia internacional, o multilateralismo ganham de novo impulso, seja no sorriso franco e esperançoso de Kamala Harris, seja na sensatez de Biden... Ou ainda... Seja na compaixão do Papa Francisco, seja no modelo de Marthin Luther King, Malcolm X, Mandela, Barack Obama, Ghndi, Malala, dos Médicos Sem Fronteiras, do Greenpeace e tantas organizações de amparo, principalmente, às crianças, seja com a precocidade de Greta Thunberg... ou no martírio de Marielle. Todos juntos, e muitos outros são meu Sítio do Picapau Amarelo!

Minha pátria é iluminista. Humanista. É a Humanidade. É o conhecimento que lutará sempre para avançar. É o sonho de chegar às estrelas. É a aventura arqueológica, a investigação dos enigmas do presente e do espírito humano;é a exploração do presente sem limites, nem, nunca, censura! É a luta pelos avanços democráticos!  É sempre a Literatura.