sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Rosa Amanda Strausz entrevista Luiz Antonio Aguiar sobre o lançamento de A HORA DAS SOMBRAS



No próximo dia 7 de dezembro, o escritor Luiz Antonio Aguiar vai partir para uma nova aventura em sua carreira: publicar em redes sociais um folhetim com 20 episódios semanais e acesso aberto a seus leitores. E isso depois de mais de 30 anos de estrada, cerca de 160 títulos publicados, 2 prêmios Jabuti, além de premiações no exterior, e de ter alguns de seus livros traduzidos para o italiano, inglês e espanhol. Nessa entrevista, ele nos fala do que os leitores podem esperar em A Hora das Sombras...

RAS: Pode começar nos dando um gostinho de qual é a história de A Hora das Sombras?

LAA: É uma grande aventura, vivida por dois adolescentes, Úgui e Liana, um casal surpreendente, que só podia ter se encontrado nesse lugar e nessa hora. Eles lutam por sua sobrevivência e para ficarem juntos num recanto do mundo devastado por uma prolongada e perversa recessão econômica. As cidades viraram cemitérios abandonados. Os prédios desmoronaram, por ação do tempo, dos cupins e das infiltrações. As ruas são escombros, cobertos de lama, onde a polícia se constitui de grupos mercenários, a serviço das grandes corporações – a única forma que se mantém organizada, extraindo lucros fantásticos, agora que não precisam mais dar bola para limitações de nenhuma espécie para suas operações.  Há bandos de crianças e jovens que perambulam por esse cenário, brigando brutalmente pelo seu dia a dia. São as sombras. Sombras do que foi a vida, antes da catástrofe.

RAS: Então, a “catástrofe” aqui, não é um cataclismo natural, como um cometa que cairia sobre a Terra, nem uma guerra atômica...

LAA: Não. É a consequência mais trágica de uma recessão, que dissolve a sociedade, leva as pessoas ao desvario, à desesperança. É o caos. Ou melhor, é o cenário depois da eclosão final, da conflagração final do caos.

RAS: E esse país é o Brasil?

LAA: Eu digo que é um país que eu não gostaria de mencionar. Esse desgosto pode ter muitas razões. Pode ser um capricho de escritor,  uma citação da primeira linha de D. Quixote. Mas, pode também ser um pesadelo que eu gostaria de exorcizar de dentro de mim, e por isso o coloco nessa história. Talvez tivesse sido o Brasil, antes da falência absoluta, da ruína. Quando esse país tinha seu próprio nome. Na história,  as corporações o denominam Meridional-B.

RAS: A Hora das Sombras não é uma história inédita...

LAA: Não.  E ao mesmo tempo, é, sim! Eu a publiquei pela primeira vez há 20 anos, ou mais. No entanto, quando reli o texto, recentemente, fiquei tão impressionado com sua atualidade que resolvi republicá-lo. E sob a forma de folhetim, em capítulos, como foram publicadas grandes aventuras, como as histórias de Alexandre Dumas. Só que agora, com essa publicação pelas redes sociais, tenho a oportunidade de me dirigir diretamente aos leitores, como sempre quis. Assim, reescrevi o texto inteiro. Eu o radicalizei bastante. Não segurei nada, mandei ver! Por isso, vai ser uma versão inédita. Aliás, em muitos aspectos, trata-se de um projeto radical.

RAS: Como assim?

LAA: Pelo tema, pelo que está acontecendo no Brasil e que tem a ver com a história (não escondo isso...) e porque estou apostando também num leitor que gosta de ler ou que tem um bocado de vontade de gostar de ler. Eu acho que um escritor, quando tem algo legal para escrever, deve escrever muito. Deve dar muito, se entregar muito, tramar muito, armar muito. Não deve reduzir seu texto porque ele não caberia,  segundo uma visão mais cautelosa, no formato de um blog, ou em outros semelhantes. Ou porque vem gente dizer a você que o pessoal não gosta de ler, ou ainda pessoas tratando leitores como se fossem idiotas. O leitor é o sentido do que eu faço. Não escreveria, se não para ser lido. Parece óbvio. Mas é algo que deve ser lembrado. Acho o pior dos pecados de um escritor quando ele subestima o seu leitor. Temos de respeitar o leitor, e preparar coisa boa, bem feita... e farta... para eles!  E tem de escrever sobre coisas importantes, realmente importantes – oferecendo entretenimento, mas não besteirinhas! Estou apostando radicalmente em meu leitor. Se me ferrar, dane-se. Nesse momento, estou apostando que essa história é boa e que pode oferecer aos leitores emoção, vontade de torcer pelos protagonistas e contra os caras malvados, vontade de ler o próximo episódio logo, de ler mais, e mais...Enfim, quero proporcionar aos leitores bons e saborosos momentos de leitura.

5 comentários:

  1. O título já diz tudo sobre esse momento.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Aguarde os episódios! Você vai gostar! estreia 7 de dezembro, 2a feira.

      Excluir
    2. Este comentário foi removido pelo autor.

      Excluir
  2. Eu me encontrei com o livro A Hora das Sombras pela primeira vez em 1998, quando eu tinha 12 anos. Era um trabalho de escola e a professora de português pediu para que os alunos escolhessem um livro da biblioteca para ler, para que depois apresentássemos para a nossa turma, contando o que achamos. Eu não escolhi A Hora das Sombras. Ele foi escolha de outra aluna e o entusiasmo da resenha me cativou, me fazendo correr até a biblioteca da escola para pegar emprestado o livro.
    Eu sempre fui uma criança que curtia ler, mas as minhas leituras eram bem esporádicas. Minha família não tinha muitos livros e nunca havia morado perto de uma biblioteca, então eu acabava lendo apenas os títulos que havia em casa (Minha mãe tinha uma coleção de Júlia, Sabrina, etc.) ou os que as professoras resolviam ler em voz alta na sala de aula. A Hora das Sombras era diferente de todos os livros que eu já havia lido. Eu não sabia, mas eu estava lendo pela primeira vez uma "distopia", gênero pelo qual eu viria a me apaixonar mais tarde. Li e reli a história várias vezes naquele ano. Os personagens eram quase tão jovens quanto eu e a identificação foi total. A história se passava num cenário caótico e eu acabei tendo que procurar no dicionário o que significava a palavra "recessão".
    Apesar dos perigos pelos quais passavam os personagens eu me lembro de me colocar no lugar deles e viver suas aventuras apaixonadamente! O fato de ter uma personagem feminina que era delicada, corajosa e que gostava de ler também me encantou. Quando eu terminei a primeira leitura anotei várias frases que me impactaram, como "um chefe deposto tinha que morrer. Era a lei de sobrevivência do bando".
    Com certeza este foi um dos livros que mais influenciou a minha formação enquanto leitora. Foi ali, sentada na calçada em frente de casa, segurando um livrinho surrado de capa azul que eu tive a certeza de que ler realmente era uma coisa muito legal e que eu queria muito que outras pessoas pudessem descobrir isso.

    Cíntia Mendes,
    Bibliotecária desde 2010 e apaixonada por distopias desde 1998

    ResponderExcluir