sexta-feira, 21 de outubro de 2016




UM ROMANCE

SOBRE A CRIAÇÃO 

DA LITERATURA




NADA MAIS POP DO QUE UM BOM HOMERO


                 Meu HOMERO Aventura Mitológica, em algumas instâncias, foi classificado como "Reconto". Entendia-se assim que se tratava de uma adaptação de Ilíada e Odisseia. Discordo dessa classificação, não somente porque nunca foi minha proposta adaptar os poemas homéricos, mas , principalmente, o que eu entendo que fiz foi destacar Homero como o criador da arte de narrar histórias, ou seja, dos recursos literários que nos permitem ter, usufruir, degustar, nos divertir com Literatura.
                  Sem os recursos que Homero criou para narrar suas histórias "épicas" (ele criou a narrativa épica), seria impossível, hoje em dia lermos um romance ou um conto vivenciando a emoção do mistério, do terror, da história de amor. Seria impossível até mesmo dar uma risada, lendo  uma cena. Porque não existiram cenas. Nem diálogos, nem personagens (quanto mais personagens carismáricos, consistentes, sedutores). Nem ação. Nem tramas. Homero engendrou os recursos que proporcionariam à narrativa a capacidade de ENVOLVER seu leitor. (1)
             É o que Aristóteles destaca na sua Poética, na qual Homero é o personagem e homenageado principal. Sem querer entrar na "Questão Homérica" - se Homero existiu ou não - e mesmo sem explorar (embora admirando, assimilando) a compreensão de Heródoto de que Homero inventou os deuses e a Mitologia, aqueles dois poemas, Ilíada  e Odisseia, originaram arte de contar histórias,  independente de quem os tenha composto (2), inventando, cunhando, forjando,  para o que viria a ser a Literatura, recursos que lhe permitiram entrar em ação (ou Imitar a ação/a vida, na compreensão de Aristóteles). Homero antecipou, abriu caminho para, criou a Literatura.
           Creio que esses recursos teriam sido inventados,  de qualquer maneira, em algum momento posterior, se não tivesse existido um Homero. Mas é fantástico perceber que a obra desse poeta, criada há cerca de 3 mil anos (descontando a Questão Homérica), gerou fundamentos válidos até hoje (atualizados, dinamizados, envenenados é claro, por séculos de experiência literária) para escrever Literatura.
            Meu livro é sobre isso. O que há ali de adaptação (traduções mais generosas, sem firulas indecifráveis para mortais) de Ilíada  e Odisseia  entram em cena como personagens, para ilustrar ou dar ação e vida a esse ponto crucial.
            Escrevi também esse livro como uma biografia ficcional de Homero (já que ninguém tem certeza se ele existe, e nada se sabe sobre sua biografia real, e ainda ignorando essa falta de compreensão corrente para a possibilidade de a Literatura reunir esses dois termos, biografia  e ficcional, numa obra só... Os leitores compreenderão! E se envolverão com o ardil - homérico). Pego então Homero criança, um menino abandonado na antiga Esmirna, e conto toda uma história sobre ele, de aventura, angústia e luta - enquanto ele se torna o poeta mais inovador da Humanidade e compõe os poemas que se tornariam patrimônio imortal da imaginação. Conto até a luta dele contra os deuses (principalmente Apolo) para conquistar a liberdade de criar uma poesia que seria considerada profana para a época e aos olhos dos Olimpianos.
           No entanto... acima de tudo...
           ...  Escrevi um livro sobre a Criação da Literatura.
            Uma homenagem (da qual ele não precisaria, é claro) e uma declaração de admiração devotada a esse poeta que criou meu ofício, arte, sentido e paixão de vida.


Ver outro artigo neste BLOG em ... (Fora de Ordem):
De HOMERO ao LADRÃO DE RAIOS
luizantonioaguiar.blogspot.com.br/search?q=Homero



(1)      Não é por acaso que as teorias (principalmente para o Teatro) de vanguarda, modernistas, se voltaram contra os atributos que Aristóteles identificou como as maiores qualidades em Homero. Toda a arte de provocar efeitos de leitura (como a catarse) no público foi condenada em favor de uma atitude racionalista que jamais deixasse o público (leitor) se esquecer de que o que vivenciava era uma representação; e que portanto não poderia vivenciá-la com sentimentos e reações reais.  A momentânea ilusão,  transporte,  prestidigitação e, novamente, o que sintetiza tudo isso, o envolvimento do leitor/espectador no ato de leitura, ao qual esse leitor estava habituado, precisavam ser rompidos, pelos parâmetros modernistas. Homero precisava ser revogado.
2) ... e eu acho que foi um sujeito que identificamos hoje com o nome de Homero, e que inclusive forjou um diálogo entre os dois poemas, uma resposta de Odisseia para o dilema mortalidade/imortalidade de iIlíada, ou seja  Odisseu/Ulisses responde a Aquiles. Uma resposta que Eça de Queirós vai ecoar, milênios depois, no seu conto A perfeição.

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