quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Livros Têm História (2)

EUCLIDES DA CUNHA

Euclides da Cunha nasceu em 20 de janeiro de 1866. Isso quer dizer que este ano faz 150 anos de seu nascimento. 

Tenho na Melhoramentos o "Canudos, Santos e Guerreiros em Luta no Sertão". É sobre a Guerra de Canudos, mas principalmente sobre o drama de consciência de Euclides para escrever OS Sertões. Foi o que me tocou, me emocionou, me levou a escrever esse livro. E tudo partiu de uma monografia que fiz para o Mestrado de Literatura (obrigado, prof. Luiz Costa Lima), apontando essa transformação, a partir de textos de Euclides, escritos em diferentes momentos. "Os Sertões"  tem uma história de como e por que foi escrito... 






Não foi fácil. Republicano, convencido de que Canudos era uma tentativa de restabelecer a Monarquia (era a versão oficial sobre o conflito) e indignado pelo fato de tantos soldados terem sido mortos pelos rebeldes, inclusive o General Moreira Cesar, eventual candidato a ditador, ele partiu para a Bahia defendendo que os jagunços deveriam ser exterminados. Escreveu sobre isso 2 artigos no Estado de São Paulo, intitulados "A nossa Vendeia".

Daí... Um dos mais belos processos de transformação de ponto de vista que vemos na inteligência brasileira está retratado no "Diário de Campanha", coleção de artigos e crônicas de Euclides, na frente de batalha. São as matérias que ele enviava para o Estado. E ali diante do que vê, fica perplexo, e várias vezes escreve "Tudo é incompreensiveL nesta campanha".

Não entende por que e pelo que os jagunços lutam.  Assombra-se com a coragem com que, mesmo tão inferiorizados, enfrentavam os soldados. E acima de tudo testemunha atrocidades praticadas pelo exército da República, que o fizeram enxergar de outro modo o conflito.

Então, volta para o Sul, para S J do Rio Pardo, onde permanece quatro anos construindo uma ponte (era engenheiro militar) e, nas horas de folga, num casebre onde se recolhia, escreve OS SERTÕES, em que expressa sua mudança radical de opinião.

Para ele, agora, os sertanejos são os heróis daquela guerra e o modelo de brasileiro; a República e seus exércitos, os matadores enlouquecidos, degoladores de prisioneiros indefesos., que armaram uma mentira (o tal monarquismo dos jagunços) para justificar a matança ( "Aquela Campanha de Canudos lembra um refluxo para o passado. E foi, na significação integral da palavra, um crime. Denunciemo-lo".)  Uma matança, aliás, que deveria servir de cacife para o exército voltar ao poder e reeditar a ditadura florianista; somente isso. A resistência dos jagunços frustrou o golpe. 

"O FIM", capítulo de encerramento de Os Sertões é uma das mais belas págiunas da Literatura Brasileira - e está reproduzida no livro, já que eu nunca seria capaz de escrever melhor , narrando aquela cena. Não houve nenhum sobrevivente,m entre os jagunços. Os últimos 5 combatentes, entre eles crianças, velhos e feridos, caíram lutando, diante de um tsunami de milhares de soldados.


Euclides da Cunha

Enfim, a integridade de Euclides (exemplo ímpar na cultura e na política brasileiras) , a sua mudança dolorosa (era um republicano idealista) de ponto de vista, que assumiu, corajosamente, sem disfarces, radicalmente, apesar dos riscos,  são os focos principais desse meu livro.O Drama de um escritor para compor uma obra que é um dos pilares clássicos da Literatura Brasileira. Vejam só... ele achava que ia ser massacrado pela publicação de Os Sertões. Pelo contrário, o livro foi um enorme sucesso. 

Foi a adimiração que sinto por Euclides e pelo que ele enfrentou para escrever Os Sertões que me levou a escrever "Canudos, Santos e Guerreiros em Luta no Sertão". 



PS:

Mesmo antevendo críticas, aconselho à garotada e ao público em geral a ler OS SERTÕES. É lindo! É Glorioso! Mas só a Parte III: "A LUTA". As duas partes anteriores servem hoje em dia mais para historiadores e estudiosos em Literatura.

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