VIVA A LITERATURA QUE DÁ
GOSTO DE LER!
ou
De Clássico e de Pop,
toda Boa Literatura
(atual)
tem um tanto
Um
órfão. Sua origem é desconhecida – pelo menos, ele sabe pouco sobre seu
passado, principalmente quem foram seus pais e como foi parar na (triste) situação
em que o encontramos no início da história. Ele é maltratado. As pessoas que o
criam parecem ter a vocação para detestar crianças e, particularmente, para
detestar nosso amigo. Que, na verdade, está se tornando mais e mais amigo, mais
e mais querido... a cada capítulo. E mais e mais torcemos por ele, à medida em
que acompanhamos seus sofrimentos (as privações, castigos, encarceramento
aviltante, má alimentação, trabalhos forçados, maus tratos generalizados, injustiças,
humilhações, e às vezes mesmo surras). Então, algo acontece, uma virada na história. Algo totalmente
surpreendente, uma revelação sobre o passado do menino. Que lhe dá a chance de se
libertar daquela vida, de realizar seus sonhos, de encontrar a felicidade... E
compreender que, longe de ser um enjeitado sem valor, ele é muito, muito mais
do que sabe e do que imaginam aqueles mesmos que o maltratam.
Esse
personagem pode ser Harry Potter. Ainda
mais, somando o efeito dessa caracterização a seus óculos, sua timidez, sua (aparente) fragilidade.
No
entanto, é também Oliver Twist, de Charles Dickens. Na feitiçaria requerida para fazer crianças sofrerem, em seus romances e contos, justamente para denunciar a situação social e cultural da criança e seu desvalimento, em seu tempo, ninguém melhor do que Mago Dickens. E quem tiver estômago fraco para isso nunca leia A casa soturna.
Já a saga
do Bruxinho Inglês - que, num mesmo percurso, descobre os segredos do seu passado, cumpre a jornada de resgate de sua força interior e de quebra salva o Mundo, triunfando sobre as forças do Mal - é o maior êxito da Literatura Popular do final do século XX
(e que se estendeu ao século XXI). Entretanto, desde o seu surgimento, houve
detratores, com argumentos dos mais diversos. O que dificilmente se enxergou,
nem se enxerga, é que a Literatura Pop não tem como modelo (cânone?) a
Literatura Modernista, de Vanguarda, mais ou menos situada entre os anos 1920 e
o final da década de 1970 (a grosso modo, porque ela exerce influência ainda
hoje, principalmente nos críticos e no meio universitário). A Literatura Pop
tem como referência os clássicos do século XIX.
Não é à
toa que retoma gêneros como o terror, a fantasia, o mistério e suspense, a
aventura. Para um leitor/escritor pop, Alexandre Dumas, Robert Louis
Stevenson, Julio Verne e Arthur Conan Doyle, que não foram reconhecidos como
gênios literários pela crítica erudita do século XX – embora tivessem legiões de
fãs – são os nomes a se considerar, entre outros, claro, num cânone próprio,
uma Lista de Honra de nossos
ascendentes literários mais ilustres.
Explicando
melhor, embora aqui a gente não vá desenvolver nenhum estudo erudito, a
Literatura Modernista buscava
trabalhar mais a linguagem, as formas narrativas, e fazer o leitor estranhar o que estava lendo. Ou seja,
não queria lhe dar conforto, nem permitir
que ele se resguardasse nos seus hábitos de leitura. Já o que a Literatura Pop
busca não é o estranhamento, mas o envolvimento. E privilegia, como os
clássicos, a construção de personagens que precisam ser sólidos para se tornarem carismáticos, empáticos; e de enredos eletrizantes, que
suguem o leitor, que o tragam para torcer, sofrer e rir dentro da história.
... A viver a ilusão de viver a
história. Intensamente!
Quanto à linguagem, a forma de
contar, não é a estrela, o prato principal, mas a bandeja, a travessa, a mesa das iguarias – vale pela sua
eficácia em contar a história. Imagine um pesadelo em que a mesa de
refeições, no que sentam os convidados (você entre eles) para traçar um jantar
apetitoso, começa a corcovear, pretendendo por tudo bloquear qualquer
facilidade de acesso à comida...
A
condenação da crítica especializada, acadêmica, erudita a obras da Literatura
atual, principalmente a que agrada a garotada, tem muito a ver com a cobrança
de uma Literatura diferente, de outra Literatura, ou seja, dos ingredientes modernistas, que a
Literatura Pop Contemporânea não adota.
O escritor Pop não quer quebrar o encanto.
É nisso que está a sua
complexidade e toda a arte de escrever um bom romance, novela ou conto,
atualmente. Seduzir o leitor é dificílimo: exige talento, técnica, trabalho e
retrabalho tenaz, tudo para estruturar
um enredo no qual a primeira cena tem articulação com o desfecho, a última cena;
e cada capítulo, quando não cada página, fecha com ganchos e artifícios (arte + ofício) para fazer o leitor querer
virar logo a folha.
Daí, garotão e garotona, não aceite barato quem falar mal de suas preferências em Literatura. São livros que tem linhagem nobre – descendentes literários do que de melhor se escreveu até hoje. Então, viva Harry Potter! Viva Percy Jackson! Viva o Terror, o Suspense, o Mistério, a Aventura! Viva as bibliotecas murmurantes! Viva os leitores cascudos que vão atrás, por conta própria, que caçam, se entregam, topam o desafio de ler livremente Literatura! Viva a Literatura que dá gosto de ler!
#minhapátriaéaliteratura
Maravilha, Luiz! Disse tudo!
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