sexta-feira, 8 de janeiro de 2016


VIVA A LITERATURA QUE DÁ GOSTO DE LER!
ou
De Clássico e de Pop, toda Boa Literatura
(atual)
tem um tanto







                Um órfão. Sua origem é desconhecida – pelo menos, ele sabe pouco sobre seu passado, principalmente quem foram seus pais e como foi parar na (triste) situação em que o encontramos no início da história. Ele é maltratado. As pessoas que o criam parecem ter a vocação para detestar crianças e, particularmente, para detestar nosso amigo. Que, na verdade, está se tornando mais e mais amigo, mais e mais querido... a cada capítulo. E mais e mais torcemos por ele, à medida em que acompanhamos seus sofrimentos (as privações, castigos, encarceramento aviltante, má alimentação, trabalhos forçados, maus tratos generalizados, injustiças, humilhações, e às vezes mesmo surras). Então, algo acontece, uma virada na história. Algo totalmente surpreendente, uma revelação sobre o passado do menino. Que lhe dá a chance de se libertar daquela vida, de realizar seus sonhos, de encontrar a felicidade... E compreender que, longe de ser um enjeitado sem valor, ele é muito, muito mais do que sabe e do que imaginam aqueles mesmos que o maltratam.
                Esse personagem pode ser Harry Potter.  Ainda mais, somando o efeito dessa caracterização a seus óculos, sua timidez, sua (aparente) fragilidade. 

              

  No entanto, é também Oliver Twist, de Charles Dickens. Na feitiçaria requerida para fazer crianças sofrerem, em seus romances e contos, justamente para denunciar a situação social e cultural  da criança e seu desvalimento, em seu tempo, ninguém melhor do que Mago Dickens. E quem tiver estômago fraco para isso nunca leia A casa soturna.  












                Já a saga do Bruxinho Inglês - que, num mesmo percurso, descobre os segredos do seu passado, cumpre a jornada de resgate de sua força interior e de quebra salva o Mundo, triunfando sobre as forças do Mal -  é o maior êxito da Literatura Popular do final do século XX (e que se estendeu ao século XXI). Entretanto, desde o seu surgimento, houve detratores, com argumentos dos mais diversos. O que dificilmente se enxergou, nem se enxerga, é que a Literatura Pop não tem como modelo (cânone?) a Literatura Modernista, de Vanguarda, mais ou menos situada entre os anos 1920 e o final da década de 1970 (a grosso modo, porque ela exerce influência ainda hoje, principalmente nos críticos e no meio universitário). A Literatura Pop tem como referência os clássicos do século XIX.
                Não é à toa que retoma gêneros como o terror, a fantasia, o mistério e suspense, a aventura.  Para um leitor/escritor pop, Alexandre Dumas, Robert Louis Stevenson, Julio Verne e Arthur Conan Doyle, que não foram reconhecidos como gênios literários pela crítica erudita do século XX – embora tivessem legiões de fãs – são os nomes a se considerar, entre outros, claro, num cânone próprio, uma Lista de Honra de nossos ascendentes literários mais ilustres.
                Explicando melhor, embora aqui a gente não vá desenvolver nenhum estudo erudito, a Literatura Modernista buscava trabalhar mais a linguagem, as formas narrativas, e fazer o leitor estranhar o que estava lendo. Ou seja, não queria lhe dar conforto, nem permitir que ele se resguardasse nos seus hábitos de leitura. Já o que a Literatura Pop busca não é o estranhamento, mas o envolvimento. E privilegia, como os clássicos, a construção de personagens que precisam ser sólidos para se tornarem carismáticos, empáticos; e de enredos eletrizantes, que suguem o leitor, que o tragam para torcer, sofrer e rir dentro da história.
... A viver  a ilusão de viver a história. Intensamente!
Quanto à linguagem, a forma de contar, não é a estrela, o prato principal, mas a bandeja, a travessa, a mesa das iguarias – vale pela sua eficácia em contar a históriaImagine um pesadelo em que a mesa de refeições, no que sentam os convidados (você entre eles) para traçar um jantar apetitoso, começa a corcovear, pretendendo por tudo bloquear qualquer facilidade de acesso à comida... 
                A condenação da crítica especializada, acadêmica, erudita a obras da Literatura atual, principalmente a que agrada a garotada, tem muito a ver com a cobrança de uma Literatura diferente, de outra Literatura, ou seja,  dos ingredientes modernistas, que a Literatura Pop Contemporânea não adota.
O escritor Pop não quer quebrar  o encanto.
É nisso que está a sua complexidade e toda a arte de escrever um bom romance, novela ou conto, atualmente. Seduzir o leitor é dificílimo: exige talento, técnica, trabalho e retrabalho tenaz, tudo para  estruturar um enredo no qual a primeira cena tem articulação com o desfecho, a última cena; e cada capítulo, quando não cada página, fecha com ganchos e artifícios (arte + ofício) para fazer o leitor querer virar logo a folha.





Daí, garotão e garotona, não aceite barato quem falar mal de suas preferências em Literatura. São livros que tem linhagem nobre – descendentes literários do que de melhor se escreveu até hoje. Então, viva Harry Potter! Viva Percy Jackson! Viva o Terror, o Suspense, o Mistério, a Aventura! Viva as bibliotecas murmurantes! Viva os leitores cascudos que vão atrás, por conta própria, que caçam, se entregam, topam o desafio de ler livremente Literatura! Viva a Literatura que dá gosto de ler! 

                                                                 #minhapátriaéaliteratura

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