sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

HISTÓRIA

Grande Personagem da

LITERATURA





OS ANJOS CONTAM HISTÓRIAS





Mistério e aventura no tempo da Inconfidência Mineira.
O sumiço da cabeça de Tiradentes, a suspeita morte de Claudio Manuel da Costa, a escultura baroca, o prodígio da obra do Aleijadinho, o ideal de rebeldia e liberdade dos conjurados, o sonho dos Arcádios...  Um romance que não dá para parar de ler, Jabuti de Literatura para jovens em 2013.










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CÉRBERO, O NAVIO PIRATA



MALDIÇÃO PIRATA! Partindo de uma profunda pesquisa histórica sobre a vida dos piratas no século XVIII, CÉRBERO é uma aventura com direito a duelos, abordagens, a maldição do navio corsário, o  porão mal assombrado do navio, e até uma ponta de história de amor... Uma viagem fantástica no mar desconhecido!








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CANUDOS



Santos e Guerreiros em Luta no Sertão! O Drama de EUCLIDES DA CUNHA para escrever um dos mais importantes romances brasileiros - OS SERTÕES. A luta heróica dos sertanejos contra forças militares imensamente superiores, enviadas para esmagá-los. A incompreensão e ignorância da população dos centros urbanos sobre a  Canudos, desenhando a maior tragédia histórica brasileira.


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HANS STADEN



Um náufrago alemão, capturado pelos índios Tupinambás. Duas culturas, dois mundos em choque. O destino mais evidente do prisioneiro era a fogueira - seria assado e devorado, segundo os rituais dos nativos brasileiros. Mas, aí, rola a aventura... O índio brasileiro visto em estado puro, antes de seus costumes serem adulterados pelo contato com os europeus. A coragem, a elegância selvagem dos senhores das matas, donos desta terra, muito antes da chegada do colonizador. Baseado no livro escrito por Hans Staden e publicado na Europa, no século XVI.

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 DIGITAL:

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FÍSICO
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FREI LIBERDADE





Aventura e História. Coragem e ideais, acima de tudo!
A Independência do Brasil foi muito mais do que o Grito do Ipiranga. Houve luta, mártires, heróis... Frei Caneca foi um deles. E a Confederação do Equador, uma das tentativas de afirmar a liberdade e a inteligência como princípios de construção deste país.



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PISCINA JÁ!



NEM A DITADURA ESTRAGA AS FÉRIAS DESSA TURMA! Nos tempos da ditadura militar, mesmo com o Brasil num breu danado, uma garotada esperta vive a aventura de enfrentar a repressão!

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quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

PRA QUEM SE ATREVE 

A DESCOBRIR

O SIGNIFICADO MAIS

SINISTRO E BIZARRO

DA PALAVRA

ÂMAGO

NA EXPRESSÃO

ÂMAGO DO TERROR




MEMÓRIAS MAL ASSOMBRADAS DE UM FANTASMA CANHOTO



Sir Simon de Canterville não é um fantasma qualquer. Grande astro de O Fantasma de Cantervile, de Oscar Wilde, ele é o mais célebre e o mais almadiçoado dos fantasmas das histórias de terror. Além disso, conhece os segredos, as fofocas, as manias de todos os personagens e autores das histórias mais assustadoras já escritas. Ele está doido para encontra uma vítima para quem poossa, para todo o sempre, ficar contando os truques e segredos da Literatura de Terror. E  só para provar que, de todos, ele é o máximo, o maior, o inigualável. De quebra, vai fazer o que mais gosta... ATERRORIZAR uma garotada esperta que se mete e desvendar o que está acontecendo de extraordinário no Casarão Ótis. Terror, Riso, Aventura... e mais terror. Para não deixar você ter sonhos tediosos à noite...


Para comprar em Livro ou e-book

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BRENDA





Estar apaixonado por uma garota talvez seja uma lobisomem pode ser no mínimo... um problema!



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SONETO NAS TREVAS




Um lobisomem atormentado por sua própria monstruosidade, e que escreve sonetos com o sangue de suas vítimas nas paredes do labirinto em que habita. Uma organização implacável, que persegue seres sobrenaturais. TERROR... O MAIS DOLOROSO E BRUTAL. Uma novela pra lá de GÓTICA!

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domingo, 4 de dezembro de 2016

SEM MISTÉRIOS,

DA VIDA,

O QUE HÁ DE SER?






QUEM MATOU O LIVRO POLICIAL?



O assassinato a sangue frio de uma novela policial, mistério que será resolvido na Capital Brasileira da Literatura: Passo Fundo – RS. Um serial killer em ação, numa misteriosa biblioteca de Baltimore (cidade onde viveu e trabalhou Edgar Allan Poe), EUA, cometendo assassinatos indecifráveis há quase dois séculos. Um escritor – sucesso mundial na Literatura Policial – que ninguém nunca viu, não sabe direito onde, nem como encontrá-lo. Um investigador adolescente, gênio tecnológico, que está em todos os lugares, mas age sempre virtualmente. Um mistério dentro do outro. E, para decifrá-los, você terá de entrar fundo nos segredos e truques da Literatura Policial.

 Para Comprar:


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MACHADO E JUCA



D. Malu desapareceu. Sem avisos, ninguém sabe o que aconteceu com ela, a não ser o marido, o brutamontes que todos detestam, Matacavalos, que diz que ela foi para o interior, numa viagem decidia às pressas, visitar a família. Mas tem algo estranho aí. Algo suspeito. Um mistério... Machado de Assis,  com seu parceiro Juca, o garoto engraxate de rua, investigam o caso, no bairro do Cosme Velho, em 1899 – ano do lançamento de D. Casmurro, um dos romances mais importantes e famosos do autor. Machado se transforma num velhinho que pula janelas, invade casas e faz de tudo para desvendar o mistério. Participações especiais de personagens de Machado, de sua esposa, Carolina, e outros que fizeram parte da sua história. Muita ação detivesca, tensão por conta do supervilão Matacavalos e um final que você jamais iria adivinhar. Um dos livros mais vendidos de Luiz Antonio Aguiar, desde 1999, lido por dezenas de milhares de garotos e garotas de todo o país.


Para comprar em livro ou formato digital: 


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O MISTÉRIO DA PEGADA VERMELHA





                Um sótão trancado há anos. Certo dia, Beta encontra a chave e, quando entra lá... encontra uma pegada em tinta vermelha, brilhante... fresquinha. Alguém acabou de deixá-la. Mas, quem? Quando? Como? E tudo se complica e se desdobra em surpresas e muita ação, quando a garota se lança numa aventura para desvendar esse mistério. Apresentando AS CORUJAS. Uma equipe de garotas afiadas nas artes da investigação.



Para Comprar:


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Leia Resenha no Blog COMPAIXÃO LITERÁRIA

http://compaixaoliteraria.blogspot.com.br/2016/11/resenha-o-misterio-da-pegada-vermelha.html

quarta-feira, 30 de novembro de 2016


Literatura não é tortura


Luiz Antônio Aguiar




Diante de algumas situações de inércia, torna-se necessário repetir o óbvio: Literatura é prazer. Um prazer às vezes combinado à dor, à perplexidade e à turbulência mental/existencial: que se confunde com gana de viver mais o mundo. Mas, Prazer!!! 

Transformada em dever de casa ou/e matéria de prova – como acontece  quando ignoram (inercialmente) a viva discussão que se empreende contra a utilização paradidática da literatura para crianças e jovens leitores – seu efeito é devastador: forma gerações de inimigos do livro, para quem malignos autores aliados a sádicos professores conspiraram para arruinar os fins de semana de jovens saudáveis e desejosos de viver.

O desafio posto é o seguinte: precisamos seduzir o jovem e a criança para a Literatura: devemos rejeitar, repudiar todos os artifícios que tornem a Literatura uma obrigação. Literatura não é coadjuvante nem acessório do currículo. Não pode ser rebaixada a servir de instrumento (paradidático) do ensino da gramática, muito menos da moral e dos bons costumes e de molduras afins.

Pelo contrário,  coloca-se ao lado do leitor no seu direito de experimentar o mundo. Há professores-heróis-idealistas que, apaixonados pela Literatura, a tornam, para a garotada, no maior estímulo a descobertas e ao crescimento intelectual e espiritual. Mas, nem sempre isso é incentivado, até mesmo por exigências mercadológicas.

Ler Literatura é um ato de troca entre o indivíduo e o livro. É um ato também de intimidade (introspecção) e de liberação. Não pode ser devassado por pressões externas,  por "cobranças de leitura", disfarçadas em trabalhos pós-leitura, nem pelo que «vai cair na prova» ou pela interpretação que " o gabarito determina como correto". Literatura, enfim, é algo à parte, singular, dentro de casa, na escola e no mundo. É um procedimento de formação informal, iluminista e humanista, visionário e especulativo, subjetivo e incerto como a vida (costumo dizer que às vezes é caso único de se plantarem tomates para colherem-se pirâmides). É para ser oferecido em espaços estimulantes e particularizados, tais como oficinas, bibliotecas, espaços extracurriculares – que não valem nota –, que podem se dar ao luxo de transgredir, de cultuar o proibido, de praticar o lúdico, sugerir o acesso ao inconfessável e explorar o conflito. Precisa tornar-se tentadora, irresistível, fascinante. Fracassa sempre que o jovem ou a criança se refiram ao momento de ler Literatura com um «ai, que saco!» do qual não tem como escapar.

Enfim, leitura e escritura são uma coisa só. São um gesto de apropriação do mundo, de descoberta e de aprofundamento, através da expressão escrita. São para romper (ou para oferecer a possibilidade de ruptura a quem queira tentá-la) o monolitismo bem-aceito e para inventar humanas verdades contra a ditadura da verdade única. São o «hipermercado... de impossíveis possibilíssimos» (Drummond, A suposta existência), onde o leitor produz matéria-prima para criar mundos para si. São a aventura que não estará nunca refletida no boletim escolar, mas no reconhecimento do que se ganhou, do que se aproveitou e se ampliou na existência.


(Publicado no «Caderno de Idéias», Jornal do Brasil, 30/4/94

domingo, 13 de novembro de 2016

LIMA BARRETO É  POP TAMBÉM
Luiz Antonio Aguiar



- Vossa excelência vai obrigar o povo a andar nu.
- Não apoiado. O vestuário deve ser coisa 
majestosa e imponente, para bem impressiona
os estrangeiros que nos visitem.

Os Bruzundangas






                Escolhido como escritor homenageado para a FLIP 2017, Lima Barreto não deveria ser lembrado somente pelo (glorioso!) O triste fim de Policarpo Quaresma. Há mais a se descobrir nesse escritor que transformou desilusão (com a República), padecimento pessoal e rebeldia em pura Literatura. Aqui, dou dicas de leitura que mostram um Lima Barreto em facetas de caricatura/paródia e aventura, muito pouco mencionadas.





Apesar do humor ácido empregado nos textos, 
ao ler Os Bruzundangas, tenha certeza
 de que seu autor os escrevia também num 
tom de lamento. É possível, ainda, imaginar
 que se trate de uma obra dolorida, sofrida,
 um desabafo feito por quem preferiria retratar 
seu país de maneira bem diferente. 
Quem sabe como o país sonhado por Policarpo Quaresma, um
 dos mais íntegros e 
idealistas personagens da Literatura Brasileira? 

Luiz Antonio Aguiar em 
"À moda de Gulliver", 
comentário à edição da FTD de Os Bruzundangas



Entre abril e junho de 1905, Lima Barreto, então repórter do Correio da Manhã, publicou uma série de reportagens sobre escavações no Morro do Castelo, parte do empreendimento de modernização da cidade do Rio de Janeiro, promovido pelo Prefeito Pereira Passos. Na época, foi descoberto um enorme labirinto de galerias, abaixo do antigo convento jesuíta, datado do século XVI. Já nessa época, o Colégio Jesuíta fundado por Manuel da Nóbrega servia a outras destinações – os Jesuítas foram expulsos do Brasil pelo Marquês de Pombal, na segunda metade do século XVIII. O Convento seria demolido em 1922.
                A descoberta das misteriosas galerias, cujo propósito permanece desconhecido, levantou rocambolescas  hipóteses. Talvez, fossem uma via de fuga dos jesuítas – já prevendo as perseguições que sofreriam, por parte do todo poderoso Pombal. E a mais popular dessas histórias, que acabaram se transformando em lendas urbanas do Rio de Janeiro antigo, falava num colossal tesouro que os jesuítas, não podendo carregar consigo, ao serem expulsos do país, deixaram oculto, naqueles subterrâneos.
                As galerias, segundo alguns, também teriam servido de passagem para os assassinos do pirata Jean François Duclerc.  Os piratas de Duclerc haviam chegado por mar e feito uma tentativa de tomar a cidade, em 1710.  A invasão foi repelida e Duclerc, capturado. No entanto, foi misteriosamente assassinado, durante a madrugada, na mansão que lhe servia de prisão, em 17 de março de 1711.



Envolta em segredos e mistérios, a morte de Duclerc serviu de desculpa para a segunda invasão francesa, naquele mesmo ano, promovida pelo pirata Dugain Trouin. Dessa vez, bombardeado pelos canhões da poderosa frota francesa, o Rio de Janeiro teve (segundo alguns historiadores, os moradores mais ricos da cidade preferiram não lutar) de se render. O pirata saqueou a cidade e maltratou o povo das ruas por 40 dias, somente se retirando mediante o pagamento de um resgate. Na verdade, Duclerc e Touin eram corsários que saqueavam  a serviço do seu rei, Luis XIV, e de patrocinadores da iniciativa privada francesa, aos quais cabia uma alta percentagem dos butins aferidos.
Os subterrâneos do Morro do Castelo, ou, D. Garça, é um folhetim, publicado no Correio da Manhã, em que Lima Barreto, aproveitando a curiosidade popular atiçada pela descoberta das galerias subterrâneas,  cria uma versão ficcional para o assassinato de Duclerc, reavivando o mistério sobre uma secreta história de amor e sobre tramas envolvendo o lendário tesouro do Morro do Castelo.

O própio Lima Barreto em participação especial em 
O triste Fim de Policarpo Quaresma em HQ
Roteiro Luiz Antonio Aguiar / Desenho Cesar Lobo



É uma obra aventuresca, um folhetim, de enorme apelo para os leitores, como muitas histórias de mistério e ação da Literatura Pop de hoje. Não seria todo escritor – mas somente um com gana de alcançar os leitores, de seduzi-los e entretê-los –, que se atreveria a publicar uma obra que poderia (e foi) considerada menor, literatura barata.



"O Escritor Guerreiro

            Ao abrir mão de criar uma obra
 mais profundamente ficcional, em Os bruzundangas,
 Lima Barreto cunha suas críticas 
mais contundentes
 à sociedade brasileira. Há trechos 
em que o ataque tem alvos certeiros, inclusive 
a defesa de suas concepções e práticas literárias."

Luiz Antonio Aguiar
em "Os Desiludidos",
comentário à edição da FTD de
Os Bruzundangas







Ainda na linha POP, preconizada inadvertidamente por Lima Barreto, temos Os Bruzundangas (1923), uma paródia, impregnada de ironia, e que carrega um certo tom de As aventuras de Gulliver (1726 , alterado em 1735), de Jonathan Swift.  A República dos Bruzundangas é uma sátira corrosiva, debochada, dos desacertos da incipiente república brasileira, principalmente nos anos da ditadura de Floriano Peixoto – que não foi chamado de O Marechal de Ferro à toa. Uma paródia sem rabo preso ao limitante realismo,  em que a fantasiosa República da Burungúdia espelha a matéria- prima perfeita do seu original, para essa caricatura que expõe o dano que pode produzir a mediocridade humana, política e cultural (realista?), combinada ao autoritarismo. A nação inventada por Lima Barreto ostenta, sem constrangimento,  vícios familiares ao leitor brasileiro. 
Vale lembrar também, como investida na paródia fantástica, O homem que sabia javanês – um malandrão que obtém enorme prestígio, e benefícios variados, fingindo saber o que ninguém no país pode conferir se ele sabe de fato. Trata-se de um conto de 1911,  outra peça em que ficam expostos a mediocridade intelectual e o viés farsesco da cultura oficial e erudita brasileira da virada do século.

Cena da adaptação em Graphic Novel


Sem o tom épico nem os heróis e heroínas de José de Alencar, nem a letalidade existencialista tramada com requintes de crueldade estética por Machado de Assis,  como reflexão para o Brasil de então e de hoje (!) Lima Barreto não poderia ser mais contundente. Homenageado pela FLIP, em 2017, teremos agora a chance de descobrir (e POPularizar!) os muitos momentos desse escritor que nunca foi aceito pelo status quo literário e cultural que lhe foi contemporâneo, um insubmisso jamais domesticado,  que encontrou seu jeito próprio e único de transformar o país, o cotidiano do povo e seu tempo em Literatura. 
É tempo de consolidá-lo como uma referência para o público e especialmente para todos nós que nos dedicamos ao ofício da escrita.


... Nem que seja para redimir, com sua segunda sentença, as palavras iniciais do profético fragmento que Lima Barreto deixou em seu relato autobiográfico...



“Viveu infeliz e morreu humilhado, mas teve glória e foi amado.”

Lima Barreto, O cemitério dos vivos (1920)

sexta-feira, 4 de novembro de 2016



O CASO DA ESCOLA FRIENDENREICH



Mistério, Terror e Suspense: e tudo isso é uma Oficina Literária!





RIO- Posta em risco pelo próprio poder público, a Escola Municipal Friedenreich, que quase foi demolida pelo governo Estadual para ser substituída por equipamentos de apoio aos megaeventos, registrou o melhor Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) da escolas públicas da cidade nos anos iniciais do ensino fundamental (4º e 5º ano), com nota 8,3, segundo dados divulgados hoje pelo Ministério da Educação (MEC). A unidade, localizada no Complexo do Maracanã, empatou no primeiro lugar com a Escola Municipal Roberto Coelho, e ficou à frente de escolas de excelência como o CAP-Uerj e Colégio Pedro II- unidade Humaitá.

(O Globo, reportagem de Paula Ferreira em 08/09/2016)
 






O CASO DA ESCOLA FRIENDENREICH começou para mim quando li a matéria acima no jornal. Havia ainda uma declaração da diretora da Escola, Sandra Russomano, explicando que o extraordinário aproveitamento escolar da sua garotada se devia a um intenso trabalho com Literatura realizado lá.
Telefonei para a Escola, falei com a Diretora, dizendo a ela que ficara interessado em visitar a Friedenreich, conhecer a escola, a Biblioteca e conversar com a garotada. Sandra me encaminhou para a Bibliotecária Andrea Neves. Eu já a conhecia (sem saber que trabalhava nessa escola), porque foi minha aluna num curso de qualificação para professores em Literatura, produzido pela parceria entre a SME-RJ e a FNLIJ.  Nesse curso, este ano, dei aulas de Literatura de Terror  e Literatura Policial.




Daí, tudo se encaixou... Porque Andrea, visitando este meu blog, viu meus “Seriados de Aventura”. Então, teve uma ideia. Começou a ler “Dados da Maldição” para uma garotada, e, para a outra, “A Hora das Sombras”. Contou  com a colaboração de outros professores, que tornaram suas aulas em sessões de leitura. A garotada gostou muito dos seriados, e daí teve a ideia de escrever histórias de mistério, suspense e terror. Então, Andrea me pediu que transformasse minha visita em uma OFICINA DE CRIAÇÃO LITERÁRIA, que teria um formato bastante breve, para os alunos de 4º, 5º e 6º anos, algo em torno de 150 meninas e meninos. Esse é o tipo de trabalho criativo com Literatura que destaca o Friendenreich, em avaliações como o Ideb.






Eu teria cerca de 1 hora para falar para cada turma. E todos os encontros deveriam ser no mesmo diz, 3 pela manhã e 3 à tarde. Bolei um trabalho na medida das possibilidades. Não seria uma oficina aprofundada, mas o que era viável fazer.  
Dividi  nosso encontro em duas partes. Numa primeira, eu daria dicas sobre como escrever (para mistério, suspense e terror) e, na segunda, eles me fariam perguntas sobre o texto que haviam lido, assim como eu daria recomendações de leitura de obras literárias, a depender do interesse que um e outro aluno fosse mostrando.
A parte de “dicas” foi necessariamente simples, bastante básica, em função do pouco tempo que tivemos. Falei da importância de um candidato a escitor ler bastante, principalmente livros que tivessem a ver com aquilo que ele queria escrever. 
O princípio é simples... Ler Literatura dá ideias e desenvolve habilidades para escrever Literatura. 
Depois, passei toques  sobre :







1)      como iniciar bem uma história (ganhar o leitor de início é fundamental, nesse tipo de Literatura);
2)      como criar um bom personagem principal, o protagonista; e também um pouco sobre elenco de apoio;
3)      como dar à história um bom final, que recompense a expectativa que criamos ao longo da trama.




Para arrematar, indiquei um livro meu, O mistério da Pegada Vermelha, como um mistério legal para eles lerem, conferirem tudo o que eu disse a respeito do gênero e bolarmos futuros trabalhos! 
Repito, tudo em termos bem breves, bem básicos, dentro das possibilidades.
Mas, a garotada gostou bastante, e eu mais ainda, por ter tido contato com eles, que são lindos, e com  professores e gestores de escolas heroicamente apaixonados por Literatura, e que fazem um trabalho importante, com resultados, mesmo nas condições precárias que são proporcionadas ao ensino público do Rio de Janeiro.

Esse foi o caso da Escola Friendereich.





OS SERIADOS QUE OS GAROTOS LERAM;

A Hora das Sombras




http://luizantonioaguiar.blogspot.com.br/search/label/A%20Hora%20das%20Sombras


Os Dados da Maldição



http://luizantonioaguiar.blogspot.com.br/2016/09/os-dados-da-maldicao-episodio-1_75.html

sexta-feira, 21 de outubro de 2016




UM ROMANCE

SOBRE A CRIAÇÃO 

DA LITERATURA




NADA MAIS POP DO QUE UM BOM HOMERO


                 Meu HOMERO Aventura Mitológica, em algumas instâncias, foi classificado como "Reconto". Entendia-se assim que se tratava de uma adaptação de Ilíada e Odisseia. Discordo dessa classificação, não somente porque nunca foi minha proposta adaptar os poemas homéricos, mas , principalmente, o que eu entendo que fiz foi destacar Homero como o criador da arte de narrar histórias, ou seja, dos recursos literários que nos permitem ter, usufruir, degustar, nos divertir com Literatura.
                  Sem os recursos que Homero criou para narrar suas histórias "épicas" (ele criou a narrativa épica), seria impossível, hoje em dia lermos um romance ou um conto vivenciando a emoção do mistério, do terror, da história de amor. Seria impossível até mesmo dar uma risada, lendo  uma cena. Porque não existiram cenas. Nem diálogos, nem personagens (quanto mais personagens carismáricos, consistentes, sedutores). Nem ação. Nem tramas. Homero engendrou os recursos que proporcionariam à narrativa a capacidade de ENVOLVER seu leitor. (1)
             É o que Aristóteles destaca na sua Poética, na qual Homero é o personagem e homenageado principal. Sem querer entrar na "Questão Homérica" - se Homero existiu ou não - e mesmo sem explorar (embora admirando, assimilando) a compreensão de Heródoto de que Homero inventou os deuses e a Mitologia, aqueles dois poemas, Ilíada  e Odisseia, originaram arte de contar histórias,  independente de quem os tenha composto (2), inventando, cunhando, forjando,  para o que viria a ser a Literatura, recursos que lhe permitiram entrar em ação (ou Imitar a ação/a vida, na compreensão de Aristóteles). Homero antecipou, abriu caminho para, criou a Literatura.
           Creio que esses recursos teriam sido inventados,  de qualquer maneira, em algum momento posterior, se não tivesse existido um Homero. Mas é fantástico perceber que a obra desse poeta, criada há cerca de 3 mil anos (descontando a Questão Homérica), gerou fundamentos válidos até hoje (atualizados, dinamizados, envenenados é claro, por séculos de experiência literária) para escrever Literatura.
            Meu livro é sobre isso. O que há ali de adaptação (traduções mais generosas, sem firulas indecifráveis para mortais) de Ilíada  e Odisseia  entram em cena como personagens, para ilustrar ou dar ação e vida a esse ponto crucial.
            Escrevi também esse livro como uma biografia ficcional de Homero (já que ninguém tem certeza se ele existe, e nada se sabe sobre sua biografia real, e ainda ignorando essa falta de compreensão corrente para a possibilidade de a Literatura reunir esses dois termos, biografia  e ficcional, numa obra só... Os leitores compreenderão! E se envolverão com o ardil - homérico). Pego então Homero criança, um menino abandonado na antiga Esmirna, e conto toda uma história sobre ele, de aventura, angústia e luta - enquanto ele se torna o poeta mais inovador da Humanidade e compõe os poemas que se tornariam patrimônio imortal da imaginação. Conto até a luta dele contra os deuses (principalmente Apolo) para conquistar a liberdade de criar uma poesia que seria considerada profana para a época e aos olhos dos Olimpianos.
           No entanto... acima de tudo...
           ...  Escrevi um livro sobre a Criação da Literatura.
            Uma homenagem (da qual ele não precisaria, é claro) e uma declaração de admiração devotada a esse poeta que criou meu ofício, arte, sentido e paixão de vida.


Ver outro artigo neste BLOG em ... (Fora de Ordem):
De HOMERO ao LADRÃO DE RAIOS
luizantonioaguiar.blogspot.com.br/search?q=Homero



(1)      Não é por acaso que as teorias (principalmente para o Teatro) de vanguarda, modernistas, se voltaram contra os atributos que Aristóteles identificou como as maiores qualidades em Homero. Toda a arte de provocar efeitos de leitura (como a catarse) no público foi condenada em favor de uma atitude racionalista que jamais deixasse o público (leitor) se esquecer de que o que vivenciava era uma representação; e que portanto não poderia vivenciá-la com sentimentos e reações reais.  A momentânea ilusão,  transporte,  prestidigitação e, novamente, o que sintetiza tudo isso, o envolvimento do leitor/espectador no ato de leitura, ao qual esse leitor estava habituado, precisavam ser rompidos, pelos parâmetros modernistas. Homero precisava ser revogado.
2) ... e eu acho que foi um sujeito que identificamos hoje com o nome de Homero, e que inclusive forjou um diálogo entre os dois poemas, uma resposta de Odisseia para o dilema mortalidade/imortalidade de iIlíada, ou seja  Odisseu/Ulisses responde a Aquiles. Uma resposta que Eça de Queirós vai ecoar, milênios depois, no seu conto A perfeição.

segunda-feira, 17 de outubro de 2016

O ESCRITOR QUE REINVENTOU O BRASIL:

JOSÉ DE ALENCAR








Luiz Antonio Aguiar




“N’O Guarani o selvagem é um ideal, que o escritor intenta poetizar, despindo-o da crosta grosseira de que o envolveram os cronistas, e arrancando-o ao ridículo que sobre ele projetam os restos embrutecidos da quase extinta raça.”

                   José de Alencar, Como e porque sou romancista.

               


                Como e por que sou romancista é um documento notável, atípico na Literatura, principalmente a brasileira, mas muito coerente com  José de Alencar (1829-1877), um escritor que, entre outras qualificações, se identificava como polemista.
E em muitas polêmicas, ele se envolveu. Nunca deixou de responder às críticas que recebia, fosse em seus prefácios, em seus ensaios, e mesmo sob fantasia de algum de seus personagens. Jamais concordaria em falsear sua Literatura. Em apresentá-la domesticada, privada de corte, a serviço do status quo, nem das conveniências ou mediocridade oficiais. Sua Literatura servia somente à Literatura. E ao seu projeto.
Sim, Alencar era um escritor com  um projeto. Um ideal literário, que era também político. E fazia questão de lutar por isso em todos os espaços de que dispunha e nos que criava.
                Esse projeto era reinventar o Brasil.
                Não o Brasil geográfico, é claro, mas um imaginário de Brasil, capaz de dar cria a um povo – os brasileiros
                Sumariamente, explicando ...



PERI NÃO PODIA SER GUARANI


                O processo de Independência, entre muitas conjuras, revoltas, insurreições, se concretizou com a expulsão de D. Pedro I, em 1831. Em meio a muita luta, foi revogada nossa ligação política e cultural (e também, em certa media, do nosso imaginário) com Portugal. Abriu-se uma espécie de lacuna em nossa identidade. Alencar via a necessidade de reinventar o Brasil, um Brasil sem Portugal para cobrir essa carência.
Foi essa a ousada proposta de José Martiniano de Alencar: a Literatura reinventando o Brasil. Criando um novo Brasil. Foi a causa que ele mais apaixonadamente abraçou.   
                Leitor do romancista americano Fenimore Cooper (O último dos moicanos, 1757) e do inglês Walter Scott (Ivanhoé, 1820), concebia que um sentimento de nacionalidade, de pertencimento, de algo em comum, essa liga que torna população/habitantes em Um Povo não surge, nem muito menos se consolida no íntimo das pessoas, sem mitos compartilhados. O Guarani é isso. É essa proposta, essa tentativa.
                Já na sua época (e mais ainda a partir do Modernismo), o personagem Peri era criticado como inverossímil, e até mesmo falso, tanto pelo modo de agir como o de falar. Não era um índio de verdade.
Já o fato de ser identificado como Goitacás torna esse guarani pouco confiável.
Os goitacases foram extintos no século XVIII por uma epidemia de varíola espalhada entre eles por prisioneiros portugueses infectados e abandonados pelos colonizadores para serem devorados pelos nativos, que assim seriam contaminados por uma doença contra a qual seus corpos não possuíam nenhum tipo de imunidade. O ardil genocida impediu que chegassem até nós registros mais apurados sobre seu modo de vida, qualquer conhecimento sobre seu idioma e mesmo sua etnia. Não pertenciam ao grupo Tupi-Guarani, e mesmo a palavra “Goitacás” tem sua origem no tupi – que certamente não era a língua deles.
Ou seja, Peri ou era Guarani, ou era Goitacás. A não ser que se estivesse supondo o significado original da palavra “guarani”, em Tupi-Guarani: Guerreiro.
Agora, a pergunta é: E daí?
Alencar (é só ler Como e por que sou romancista), não se propôs a fazer um tratado antropológico.
Queria criar um mito.
Peri é um Ivanhoé, de Scott, mito-referência para a identidade/ nacionalidade inglesa, é um Uncas, de Cooper, mito-referência para a identidade/nacionalidade norteamericana. Não seria de se admirar se Alencar jamais tivesse visto um índio na vida, nem no Ceará, nem na Corte, Rio de Janeiro. E com certeza, diferente dos antropólogos, sertanistas e indianistas do século XX, jamais enveredopu em expedições pelas florestas para  vê-los em estado original e em seu mundo próprio.
Ora,  uma vez independentes, não poderíamos mais ter como referência Portugal e seu passado, nem a Europa, para nosso sentimento de identidade/nacionalidade/pertencimento. Já não seria a história medieval ibérica a nos dar uma raiz em comum. No entanto,  dentro do projeto de Alencar, poderíamos nos  mirar no índio e nos identificarmos com a sua bravura, sua força, simbolizando a exuberância da natureza tropical.
E isso mesmo que esse indígena, como também reconhece Alencar (ver citação acima), não tivesse tido uma presença de fato nem na sociedade colonial, nem na sociedade e cultura (independente) que se formava.
Também isso não importava.  Cabia era construir um mito. Uma liga. Plasmar um povo. Ou cunhá-lo, como se cunham metáforas.
É bom lembrar que Alencar é ainda mais explícito no caso de Iracema, que tem como subtítulo Uma lenda do Ceará. É a história mítica da geração de um povo, filho do invasor português com a semideusa indígena. 
Outros escritores, além de Alencar,  participaram da corrente denominada Indianista. No entanto, ele foi mais extremado, já que seu projeto, além da construção do Índio-herói, enfatizava outros aspectos.




O ESCRITOR MILITANTE


                Em vários de seus escritos polemistas, Alencar ergueu a bandeira de criar uma Literatura Brasileira. Compreendia essa militância de uma maneira bastante avançada para o seu tempo, já que não a resumia a compor histórias ambientadas no Brasil, com personagens brasileiros, algo puxado ao exotismo, ao abacaxi com bananas. O que visava  era captar um público desejoso de uma Literatura com nossa cara mestiça,  e apto a embarcar em dramas, conflitos e tramas ambientados no Brasil, interpretadas por personagens brasileiros.
Ele próprio um leitor de Eugene Sue, na juventude, de Dumas e outros clássicos europeus, compreendia a dependência de nosso imaginário, nossa pouca habilitação a aceitar uma história vivida por uma  Aurélia, ou uma Lúcia,  ambientada na Rua do Ouvidor, ou em Botafogo, ou no Rio Comprido, para quem estava acostumado a sonhar apenas quando transportado para a elegância dos bulevares franceses ou para os mistérios submersos no fog londrino. O já escasso público leitor brasileiro lia traduções de folhetins franceses. A isso considerava Literatura. Nesses, é que se dispunha a embarcar. 
Percebam que não necessariamente está em jogo aqui um intuito nacionalista, de valorizar o que é nosso, ou algo semelhante. Alencar superava o propósito simplório, visando (ao meu ver) obter aval do público para criar uma Literatura que pudesse refletir (como é próprio da Literatura) sobre nós mesmos, em vez de se fantasiar de europeia. Que pudesse usar nossos dramas como matéria-prima para a Literatura.
Já  bastava a Rua do Ouvidor que, em pleno verão carioca, para seguir a moda francesa, obrigava as mulheres a vestirem veludos, mangas compridas e longas caudas, chapéus e luvas. Que nossa Literatura pudesse atacar esse caiporismo, seria seu propósito, e a única maneira de perseguir seu projeto – a Literatura forjando um Brasil longe do complexo de vira-lata (uma expressão que viria bem depois e em outro contexto, mas que poderia se aplicar aqui). Seria a afirmação de que poderíamos ser civilizados sem sermos uma caricatura, europeus imperfeitos, uma aberração híbrida, privada da identidade.
Alencar, em seu projeto, precisava trazer a Literatura para reescrever o Brasil.



COMO É GOSTOSO MEU BRASILEIRO


                Também em vários momentos, Alencar rebateu a crítica ao abrasileiramento  do português em seu texto. Sim,  muitos o condenavam porque  seus personagens e narradores falavam como o português era falado no Brasil, e não com o jeito lusitano.
                Muitas e muitas vezes, respondeu que não escrevia assim por uma displicência, ou frouxidão, em relação à linguagem, mas por procurar construir a verossimilhança – proporcionar aos leitores no Brasil a oportunidade de escutar sua própria voz nos personagens, falando como eles falavam e não com a submissão ao erudito, ao superado (o português foi atualizado á brasileira, no Brasil), ao colonizado.
                Uma heroína, um personagem conflituado, dilacerado por dilemas morais e/ou sociais, poderia expressá-los num linguajar brasileiro. Alencar tinha consciência de que, se conseguisse isso,   grande parte de seu projeto estaria ganho. Note-se que, mais uma vez, temos aqui um escritor que prioriza a composição literária, a criação, a construção da verossimilhança, e não o que é considerado culto, correto, de bom tom.
Devemos essa bandeira a Alencar.


UM PAÍS SE FAZ COM MULHERES E LIVROS

                Alencar reinventou o Mapa do Brasil.
                Escreveu histórias passadas no Sul, no Centro, no Norte.
                E reinventou também o passado, dando ao Índio-Mitológico que criou o papel de protagonista na formação da nação (que reinventou). Muita coisa pode ser questionada em seus objetivos e na tática que utilizou. Mas, é curioso que esse político conservador, não-abolicionista, monarquista, filho de uma sociedade patricarcal, quando partiu para transformar a Corte (o Rio de Janeiro) em histórias/Literatura, elegeu como suas protagonistas, as mulheres.
                Lúcia. A prostituta de coração virgem, que revoltou aos conservadores (e ao Imperador) por não ser condenada pelo seu autor. Mas que outro escritor teria a coragem de colocar o dedo na chaga dissimulada pela auréola de santidade familiar e conjugar da Corte? Lucíola, o romance que denunciava a hipocrisia de uma sociedade que hostilizava e maltratava suas prostitutas em público, fechando os olhos para o fato de que eram os maridos, jovens desejosos de aventuras e iniciação sexual, noivos determinados a preservar a virtude de suas prometidas, os clientes da prostituição.

Tutorial de "Luciola", na Coleção 
Descobrindo os Clássicos


E num trecho do livro, o protagonista masculino, Paulo, desafia (As asas de um anjo, peça teatral de Alencar com enredo muito semelhante teve a exibição suspensa, poucos dias após a estreia, e o teatro ocupado pela polícia): “Que raivem os moralistas!”
Ou ainda, que outro escritor se recusaria a usar sua Literatura para fazer parte do jogo de aparências ...
                 E expor o aspecto de arranjo no matrimônio, no esquema social vigente, em que a mulher não era dona nem sequer de seus bens, mas sim o esposo ... Do comércio, oferta e caça de dotes por conta da necessidade das famílias de arranjar maridos para suas filhas... De  descarnar uniões em que o afeto e o amor e a lealdade raramente prevaleciam?
 Em Senhora, estrelado pela surpreendente Aurélia Camargo,  o casamento é tratado como contrato, negócio, de compra (o marido) e transferência de propriedadede (a noiva). E isso já nos títulos das partes da novela:  “Preço”, “Quitação”, “Posse”, “Resgate”.
                No Brasil reinventado por Alencar, a Corte, o Rio de Janeiro, o fígado que recebia as influências europeias e as metabolizava. O cérebro e coração do país. O presente e as possibilidade de futuro (já que o Indianismo  era o nosso passado, nosso legado, patrimônio míitico) foram seus Perfis de Mulher. Todos os romances do Mapa Literário do Brasil Reinventado por Alencar, ambientados na Corte, eram protagonizados por mulheres. Poderia não ser a chefe da casa, oficialmente falando, mas se tornou, em Alencar, dona da História.





O LEGADO

Tutorial de "Senhora"



                Quando Machado de Assis, um dos fundadores e primeiro presidente da Academia Brasileira de Letras, escolheu o patrono da cadeira que lhe cabia (no.23), indicou José de Alencar. E, ao celebrar a inauguração da estátua de Alencar, no Catete (bairro do Rio de Janeiro), e em outras ocasiões, reconheceu a influência que o autor de Lucíola e Senhora teve sobre ele.
                Como Alencar, Machado foi criticado por usar um português abrasileirado, considerado pobre, em comparação a seus contemporâneos... Já o filho de Alencar, Mário Alencar, foi um crítico fundamental para reconhecer em Machado o herdeiro do mesmo projeto literário de seu pai e esclarecê-lo para os demais críticos. Foi um grande defensor da Literatura de Machado. Graças a ele, a crítica, ou pelo menos parte dela, deixou de cometer muitas injustiças contra o romancista.
Assim como Alencar,  Machado também sonhava em conquistar leitores. Via no abrasileiramento da linguagem e no das ambientações e personagens um caminho para poder tornar a Literatura um elemento de reflexão sobre nossos dilemas diante do mundo. Nada contra ler  Cervantes, Shakespeare, Poe, que foram diletos de Machado. Mas, para que  o questionamento dos  nossos caprichos culturais atravessassem a carne do leitor e entrassem na sua corrente sanguínea, Brás Cubas  tinha, sim, de ser um egresso da elite brasileira, abastada, devotada ao ócio, que desperdiçou suas vantagens e privilégio por vaidade extremada (vaidade somada a inépcia é patético, às vezes trágico: e já aí está um bom núcleo para qualquer ficção) e por incompetência de viver, de produzir, de criar, de ser.  Brás Cubas não funcionaria para o leitor brasileiro se fosse um parisiense, um londrino, um alemão.  
                Ora, a Literatura é um dos mais complexos e férteis modos de o ser humano reconhecer o mundo, recriá-lo, situar-se nele. E o legado de Alencar, ou seja, seu projeto, foi assumido (como nas corridas de revezamento, já que Alencar morreu precocemente) por Machado de Assis, que o desenvolveu, e envenenou-o, até com ingredientes  de cunho universal, existencial e metafísico, os quais o transformaram num  prodígio da Literatura. Machado, ao meu ver, era um escritor mais poderoso do que Alencar, e nos deixou uma obra mais soberba.  O que não impediu Machado de lhe ser grato e a nós, de prestar reconhecimento  àquele que fundou o que se pode entender como Romance Brasileiro.
                Ou seja, a Alencar devemos a invenção do Ser Brasileiro, que ainda está em vigor (e assim continuará até nova ruptura cultural) e a próxima reinvenção do Brasil.

Que, creio, também será empreendida pela Literatura.  

Estátua de José de Alencar, inaugurada em 1897