De Júlio Verne
a
Interestelar
A Ciência faz Histórias
No meu livro de terror + humor + aventura, “Memórias mal-assombradas de um fantasma
canhoto”, um garotão maneiro, o Anjão, tem ideias muito instigantes sobre o que
são fantasmas. Numa cena, ele diz: “... E se o que a gente chama de fantasma
forem habitantes de um outro universo que às vezes se mistura com o nosso? Os
cientistas chamam isso de interação... Pode acontecer. Só que a matéria e a
energia de um universo paralelo são diferentes das do nosso. Daí, os habitantes
desse universo parecem... outra coisa.”
Tudo
isso é parte de uma armadilha que ele e a turma dele, “Os Achudos”, estão
aprontando pra cima do fantasmão que assombra essa história.
Bem,
claro que o Anjão é um nerd tipo vidrado em ciência.
Mas,
meu caso aqui é dizer que a Literatura – de aventura, mistério, suspense – precisa atualizar seus temas. E uma dessas fontes são as mais
recentes descobertas e especulações das diversas ciências, da tecnologia, que
anunciam um universo magnificamente interessante, que se tornará acessível para
todo mundo, nos próximos anos.
Que
serão o Universo no qual essa garotada de hoje fará sua vida.
Que
seria um barato começar a imaginá-lo, como escritores como Júlio Verne, lá no
século XIX, alimentou a imaginação de muitos leitores seus, que se tornariam
cientistas...
Vou
contar uma história curiosa...
Em Viagem à lua (1865), um projétil lançado da Terra deveria descer na
Lua, numa cratera chamada Mar da
Tranquilidade. Isso não aconteceu, no livro de Verne, para frustração de
muitos leitores, que sonhavam com a conquista do nosso satélite natural, mesmo
que fosse na ficção. No entanto, muitos desses leitores se tornaram cientistas
e inventores. E todos os cientistas e inventores do século XX, todos os que
mantiveram o sonho de chegar à Lua, foram necessariamente
leitores de Júlio Verne, que os contaminou com o micróbio da ciência e,
especificamente, das viagens espaciais.
Daí, em 20 de julho de 1969,
quando a Apollo 11 alunisou (desceu na Lua), pousou... no Mar da Tranquilidade.
Porque Verne adivinhou que isso iria acontecer? Não creio... Mas creio que
aqueles cientistas-leitores de Verne, desde quando resolveram dedicar sua vida
à ciência, à astronomia e à engenharia especial, somente tinham um lugar, em
suas mentes, onde o “pequeno passo de um homem, mas um passo gigantesco para a
Humanidade” deveria ser dado: no Mar da Tranquilidade. Verne e Viagem à Lua foi a inspiração de muitas dessas pessoas que
idealizaram e realizaram o Projeto Apollo.
Em suas “Viagens Maravilhosas”, a
série de aventuras que escreveu, Júlio Verne botou em cena diversos ramos da
ciência. O mais evidente foi em “20 Mil Léguas Submarinas” (1870), com o
prodígio do submarino Nautilus e do seu gênio, o capitão Nemo. E não podemos
esquecer que outro dos personagens principais, o Professor Aronnax, é um grande
naturalista, especializado em vida marinha – todo um mundo desconhecido ainda da grande maioria das
pessoas na época.
Também em Volta ao mundo em 80 dias (1872), entrou um tanto de invenção, de
atualização, sem os quais a trama seria impossível. Phileas Fogg propôs a
aposta ciente de que novidades nos diversos meios e vias de transporte, que
pretendia utilizar, tornariam possível dar a volta ao mundo naquele prazo que
os outros achavam impossível.
Verne assim colocou a ciência
dentro da história. As novidades. A imaginação de um mundo diferente,
desafiante totalmente renovado, no século seguinte. Era um homem que acreditava
no futuro. E que enxergava como esse futuro idealizado atraía o interesse dos
leitores. Sua Viagens Maravilhosas foram um espetacular sucesso. E seus livros
são lidos até hoje com prazer.
Bem, mas se Verne usava como fantasia
a viagem do homem à Lua, ou seja,
uma aventura restrita ainda ao nosso micro-sistema orbital (Terra-Lua), Arthur
Clarke, em 1968, um ano antes de Neil Amstrong pisar o solo lunar, lançava um
livro que iria fazer borbulhares todas as mentes daquele tempo quando ainda não
eram chamados de nerds. Foi 2001, uma
odisseia no espaço[1].
Na trama, uma missão espacial vai da
Terra a Júpiter desvendar um mistério que tem a ver com uma civilização antiga,
de nossa galáxia, e que criou uma maneira de fazer contato conosco, quando atingíssemos
um certo nível de desenvolvimento científico e tecnológico. Enfatizo: se a
ação, agora, já não é mais restrita à nossa vizinhança orbital mais próxima,
ainda não deixa o Sistema Solar.
Dando outro grande salto, temos o
recente Interestelar (2014).
Novamente, uma missão especial, que sai em busca de um planeta alternativo para
a espécie humana – já que a Terra se tornara inabitável (irrespirável)... E que
acaba defrontando-se com as singularidades de um buraco negro, com o labirinto em que as leis da
relatividade transformam o espaço-tempo, o antes e o depois, o passado e o
futuro.
Quem lê um texto farejando as intenções
do autor – instinto detivesco ! – já deve ter percebido aonde quero chegar. O “universo”
está se expandindo (não somente no cosmos, de fato) na ficção, nas demandas e
exigências de nossa imaginação. Há cento e sessenta e poucos anos, juntávamos
um bando de cientistas, que construíam um gigantesco super canhão (foi assim em
“Viagem à Lua”), que disparava um projétil para alcançar a Lua. Hoje, nos
envolvemos nas intimidades das forças fundamentais que criaram e sustentam este
e outros universos – já que não mais se pensa em um único Universo, mas em
múltiplos universos, no MULTIVERSO, segundo concepção corrente.
Ou por outra... quando eu tinha
11 anos, meio século atrás, no colégio religioso onde estudei, se não era
declaradamente pecado, era quase, perguntar-se
se haveria outros planetas, além do Sistema Solar. Em 1989, o Telescópio Hubble
foi posto no espaço, um ano depois começou a nos enviar fotografias, e hoje
sabemos que existem (porque já os “enxergamos”) pelo menos outros dez mil
planetas, além das bordas do Sistema Solar, o que sugere fortemente que existam
incontáveis planetas, galáxia afora, e sabe-se lá quantos e o que mais, nesse
universo de bilhões de galáxias.
Novamente: o universo está
ficando maior. A imaginação de nossos leitores – o que eles prenunciam do
futuro próximo - está com novas
demandas, novas exigências. A ciência, as descobertas, as especulações
científicas, sempre foram fonte, tema, ambientação para grandes aventuras, para
livros e autores muito populares. Não estaria em tempo de os autores
brasileiros entenderem um pouco mais de ciência? lerem um pouco mais sobre as
descobertas científicas que estão se acumulando? Suprirem-se de informação e
superarem esse atraso, em relação ao que o mundo lá fora lê, sonha,
conversa...?
Uma dica... Um joguinho de
computador super popular entre a garotada: Minecraft. Tem até
romances-aventuras passados no universo Minecraft, e que são avidamente lidos
por essa garotada que a gente cisma que não lê. Podem não ler o que alguns de
nós acham que eles deveriam ler, embora eles não achem. Mas lêem essas
histórias... E tem mais. O jogo é uma divertida exploração das concepções de
universos paralelos, própria dos nerds e dos cientistas mais ousados. Entra-se
por um buraco, uma fenda, e se sai num novo cenário, numa nova “textura”... num
outro universo. E o garoto e a garota estão lá, se habituando a essa maneira
nova de entender dimensões, tempo e espaço... que bem podem ser aquela à qual
estarão vivenciando no cotidiano do seu mundo, daqui a alguns anos... (enquanto
alguns dos “velhos” de hoje vão insistir
em temáticas locais, analógicas, ditas edificantes e/ou cívicas...).
Um passeio por capas de revistas já é o
bastante para “suspeitarmos” quantos novos temas se abrem para a imaginação e quantas
e quantas histórias há para serem escritas. E não somente pensando em Física,
Astronomia...
O passado tem encantado tanto
quanto a imaginação futurista, e desde Indiana Jones que a Arqueologia está na
moda e nas fantasias desse pessoal que queremos como nossos leitores. Tudo a
ver!
ARQUEOLOGIA E AVENTURA
Mistérios do passado
dando encrenca para uma garotada
aqui e agora!
A Engenharia Genética tem
proposto soluções para o tratamento de doenças que já aterrorizaram tanto as
pessoas, que sequer seu nome era pronunciado dentro de caso – o câncer, por
exemplo... que hoje, muitos casos, é tratável e curável[2].
Não há mais sentido em se apavorar com o câncer, o diagnóstico de câncer não é
mais uma sentença de morte, e esse é um mundo diferente do que há duas ou três
décadas atrás.
E das cavernas e subcavernas da Internet... e de outras nets ocultas...
E sabe-se lá mais o que
poderíamos escavar, inventar, xeretar...
Nesse novo cosmos, há tantos dilemas, tantos conflitos (a velha, permanente, universal Natureza Humana) a explorar, testando o que muda, o que não muda quando pomos nossos personagens indo até onde nenhum homem nem mulher jamais esteve.
Nesse novo cosmos, há tantos dilemas, tantos conflitos (a velha, permanente, universal Natureza Humana) a explorar, testando o que muda, o que não muda quando pomos nossos personagens indo até onde nenhum homem nem mulher jamais esteve.
Em suma, vamos atualizar as
histórias que escrevemos? Vamos ler mais sobre ciência, sobre as descobertas
que acontecem num ritmo e num volume doidos? Vamos estimular que mais e
mais leitores nossos se apaixonem por esses temas? Que chamar alguém de futurista seja tão legal quanto chamá-lo de irado? Vamos corresponder à paixão
e ao pioneirismo, a coragem para ser pousado, arrebitado e diferente, dos
nerds? ... E ao que mais atrai os
leitores que tanto desejamos agradar?[4]
Montes deles, de preferência!
Montes deles, de preferência!
Vida Longa e Prosperidade para
todos!
Que a Força esteja com vocês!
Nerds... Tamo’Junto! (Eu ❤ nerds)
e=mc2 até segunda ordem!
[1]
Estou pulando um bocado de gente, como H.G. Wells, com A guerra dos mundos, de 1868, mas minha intenção não é escrever
sobre ficção científica, por isso, esta simplificação serve bem ao tema... Creio
que a maioria das pessoas não leu 2001,
uma odisseia no espaço, o que é uma pena, e conhece a história (com
modificações em relação ao original) apresentada na antológica versão cinematográfica, do
mesmo ano, dirigida por Stanley Kubrick. Por exemplo, o Planeta-destino da nave comandada pelo computador serial killer, HAL, é Saturno, no primeiro livro, e Júpiter, no filme e nos episódios seguintes (2010, o ano em que faremos contato). Vou resumir bastante a trama, aqui,
mencionando somente o quen é necessário para este artigo.
[2]
Não deixa de ser irônico que, enquanto
no mundo doenças como essa são alvo de pesquisas avançadíssimas, no Brasil (mas
não somente aqui), doenças do século XIX, como a dengue, a zica e a febre
amarela constituam o pesadelo atual de nossa população.
[3]
Ave,Isaac Asimov!
[4]
Usei essa palavra por pura provocação porque tem muito chato que diz que não
devemos procurar agradar nossos leitores.
Eu quero sim... agradar, adular, babar, cativar, seduzir, intrigar... O que
aliás é uma meta totalmente consistente com a Cultura e a Literatura Pops. Como
Júlio Verne bem fazia!
ONDE COMPRAR: (percorra os
sites e prestigie quem vende mais barato)
http://www.travessa.com.br/Busca.aspx?d=1&bt=a%20espada%20turca&br=00&cta=00&codtipoartigoexplosao=1
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